Friday, August 28, 2009

fluências


"As únicas coisas eternas são as nuvens." -Mário Quintana

Ontem falei com uma amigo de várias décadas que vive do outro lado do mar. Os afetos povoaram meus sonhos e acordei impregnada de imagens e, do rumor das ondas do mar e dos tempos em que traçamos rumos tão distintos e, ao mesmo tempo iguais. A intensidade das palavras multiplicaram belezas, subtraíram cansaços, somaram afetos e foram divididos recortes de vida; a cumplicidade tem resistido ao tempo e às distâncias . Nossas conversas sempre
foram marcadas por disfluências, pausas suficientes para inspirar e expirar significados ...
Não sei por quantos anos ainda iremos comemorar nossos aniversários através das ondas, pois que das incertezas estamos marcados. Não sei também se algum dia, lado a lado celebraremos e, se estaremos novamente vestidos com sonhos de proporções e transparências similares.
Embora em vias paralelas andamos, foram os momentos de confluências que contaram e ainda contam.
Creio, não ser possível esculpir em pedra , dada a quantidade de expressões que nos escaparam e os afetos que continham, mas arrisco dizer que nas areias intemporais algo foi inscrito e, este algo que nos escapa flui através da voz do vento.


(confluência - mobilidade de fluxos que convergem, direções que se juntam, encontro entre dois caminhos, ruas ou avenidas, dois rios que passam a correr em um leito comum )

Tuesday, August 25, 2009

Após as frias chuvas


A linda estrela afugentou as nuvens,radiante encontra-se o coração.Pequenas flores já se dão em esplendor. O invisível se fez visível e as cores aí estão. O calor afugentou tristeza dando lugar à esperança;aproxima-se o final de dolorosa estação. De parto difícil, já boas são as novas que me trazem; Jardins interiores refeitos, resplandecem em peitoris.
São de janelas amplamente abertas ora minha feliz visão.
Reencontro varais repletos de espuma e perfumadas hordas, serão os anjos da anunciação em suas cordas ?
Recompensa à espera se fez no abraço e, agradecida pela acolhida de sentimentos,a roda da vida deixa-se brincar no arco de luar e, então.é quando se deixa à vista a existência aredondando-se em louvor e prece bem no centro de cada uma das margaridas...


virgína além mar RS Brasil 25 de agosto 09

boa

dica de libriana com afetuoso abraço,

Wednesday, August 19, 2009

Singelo passeio no Discutindo Literatura


agradeço imensamente à Luciana P. Pires pelo espaço que nos abre no discutindo Literatura
abrigando nossas letra-sentimentos e recebendo oxigenadas visitas !
virgínia além mar

No caminho da vila a pequena casa abriu-se como flor...
Imagem créditos sharon maia wilson

Friday, August 14, 2009

Tempo II




Tempo II

* virgínia além mar


Tempo é ave ligeira
Leva em suas asas parcas penas

De vertiginosas aflições forra o chão
Segue trançando quimeras sob forma de canção

Tempo ave de rapina devora chagas
e as transforma em rosas...

Tempo ave robusta, ergue colinas e reborda o céu
Carrega destinos semeia voz, pão e mel...

Thursday, August 13, 2009

Livre associação; das efemeridades


Perdoem-me amigos, estou de partida, despeço-me da ausência escondida, uma pérola perdeu a cor, outrora comovida. Das areias quentes tenho saudade e só por isto movo-me em sofreguidão.
Haverá de se fazer uma estrela antiga renascer, por mais que se sinta que ela ainda vibra e, com sua luz embutida constrói-se sonhos nas noites de rede e folclórica ilusão. Creio que não renascerá mesma chama. Estamos em despedidas, dói um pouco saber que o que fomos se foi para sempre e que as sementes das chamas dormitam em lama. Hoje mais que antes sabemos da impermanência e do quanto a paisagem se transforma e, nosso rosto pede o sorriso do encanto que se foi.
Morremos a cada página escrita, a cada olá já em despedida .
Perdoem meus amigos assim como chego já parto. Também vos perdôo por viverem a efêmera sua, também vida. Que o encanto que ficou no retrato seja resguardado da dor que houve e não pode ser aliviada. Que o esplendor reine sobre desassossegos e nos abra aos momentos que ainda virão galopando miragens. Anseio ainda , dizer-vos que tal qual membrana híbrida fortaleço-me em cada despedida e, assim espero que façam e ousem adentrar a monotonia com tamanha fibra, para que sobre nós alguma sentença seja proferida; houve perseverança, lutaram e deixaram-se transformar !

Sunday, August 09, 2009

Pai

-A paternidade está, pois ligada ao fato de falar -

-Não há pai senão com a palavra, a partir das palavras. Sem palavra, haveria genitores, grandes machos copuladores, mas ninguém poderia dizer-se “pai”-

A função paterna é a de oferecer os recursos necessários à provisão dos filhos, com afeto e maior proximidade entrepai e filho. Seu papel é o de facilitador e condutor do desenvolvimento do filho, de maneira a permitir amenizar os percalços do mal estar da civilização que, passados os 150 anos do nascimento de Freud, abrem em nossa cultura, outras formas de mal-estar: a delinqüência, a toxicomania, a indiferença, o terrorismo e a massificação do singular no seio da cultura.
O pai representa a possibilidade do equilíbrio regulador da capacidade da criança investir no mundo real. Seu contorno se dá no processo de desenvolvimento, de acordo com a etapa da infância. Freud (1914) explica que para a criança, num primeiro momento, o próprio Deus é apenas uma exaltação da imagem do pai. Cedo, porém, o pai é identificado como o perturbador máximo da vida instintiva dela: torna-se um modelo a ser imitado, mas também a ser eliminado, para tomar o seu lugar. “É nessa existência concomitante de sentimentos contrários que reside o caráter essencial daquilo que chamamos de ambivalência emocional.” (FREUD, 1914:249).

apenas no século XX surge a imagem do pai-educador, encarnada à família nuclear, urbana e burguesa. Essa imagem desenvolve-se, com o que se denomina “o novo pai”: aquele que conduz a criança, aquele a quem a criança chama de papai.

O pai genitor da criança seria um fundamento suficiente para se manter uma definição irredutível do ser-pai. “No entanto, pretender fundar a paternidade sobre a verdade biológica, é fazer evidenciar ainda sua fragilidade” (JULIEN, 1997:45). Dois tipos de discursos sustentaram o novo direito da mulher sobre a criança. Um é que durante muito tempo, a paternidade era presumida: legalmente, o pai era o marido da mãe. Desde a lei francesa de 1792, isso não é mais assim. A lei não assegura mais para o homem amado pela mãe, a condição de genitor. E o outro é que a procriação – a inseminação artificial - permite à mulher ter um filho sem o encontro sexual com o genitor. Os avanços tecnológicos provocam esse tropeço para a paternidade. A paternidade biológica torna-se irrisória.

Para THIS (1987), a palavra “Pai”, o representa, o evoca, o chama. Não há pai senão com a palavra, a partir das palavras. Sem palavra, haveria genitores, grandes machos copuladores, mas ninguém poderia dizer-se “pai”, “filho”. A paternidade está, pois ligada ao fato de falar . Por isso dizer-se pai, uma questão da cultura e, portanto, haver a necessidade de se legitimar no exercício cotidiano da relação pai e filho. Acreditamos ainda que é no âmago dos sentimentos paternos de cada homem, e na teia de relações que eles estabelecem com o complexo-pai (o pai real ou imaginário) que é possível a construção e reconstrução da subjetividade de pai.
Ao nível simbólico é o pai quem deve romper o vínculo simbiótico e necessário inicial mãe-filho. A mãe, pelo discurso, vai inconscientemente autorizar (ou não), este pai como um terceiro na relação, que será, a partir daí, o representante da Lei contra o incesto. A criança, então, ingressará na cultura e na linguagem. “Sob a ótica do filho, é um pai opositor, um outro desconhecido que incomoda, inquieta e ameaça o vínculo com esta mãe. Na dimensão psicológica, desenha-se aí o primeiro duelo pela hegemonia do poder” (NOLASCO,1993:83). “O pai está ali para permitir a passagem e o acesso ao mundo simbólico: pôr junto, trinificar. Não é um ou outro, é ao mesmo tempo um e outro. Só a dimensão simbólica permite à criança não pertencer exclusivamente a um ou a outro” (THIS, 1987:176).

A função paterna (que pode ser exercida por outra pessoa, que não o pai biológico), salva a criança e a mãe de patologias mais sérias. “A frustração da pulsão do desejo é referida pela criança ao terceiro objeto que lhe é designado normalmente como obstáculo para sua satisfação: a saber, ao progenitor do mesmo sexo” (LACAN, 1990:42). O complexo de castração, decorrente do Complexo de Édipo, é estabelecido pelo pai que proíbe, frustra, para o bem da criança que aprenderá a ouvir o não e conhecerá limites. A partir de então, ela fará identificações que a levarão a viver sua própria vida, a identificar-se sexualmente e a buscar seus ideais. “Gravita uma oposição entre o filho homem e seu pai, um duelo psíquico que tem expressão nas características violentas e guerreiras que os homens assumiram tão bem” (NOLASCO, 1993:83).
Edna Galvão - Artigo: Relação pai x filho: pilar do processo civilizatório. In Periódico Actas Freudianas, Revista da Sociedade de Estudos psicanalíticos de Juiz de Fora, v.III, 2007. 155p.; 26 x18 cm. ISSN 1809-3272.

Thursday, August 06, 2009

Thaumazein & Praxis -

"a maioria das pessoas teme a filosofia dos gregos como as crianças receiam a assombração; têm medo que ela os arrebate. " Clemente de Alexandria

" O que admira quer dar a palavra ao seu objeto: logon didónai " *

Aprendemos com Nietzsche que o filósofo não necessita isolar-se do mundo, sendo um teórico mas ao contrário aliar a teoria à prática, contemplação e praxis correspondem-se, integram-se, complementam-se. Entretanto o filosofar, produzir algum pensamento necessita do distanciamento. Nossa sociedade voltada para a produção e numa inquietação constante carece de reaprender o ócio que difere do negócio. A atividade contemplativa, assim como o diálogo foram perdendo o valor diante as exigências cada vez maiores de aperfeiçoamento técnico. O ter há muito substituiu o ser; em detrimento da qualidade tornamo-nos quantitativos. Certamente que de uma quantidade de experiências advirá algum conhecimento quantitativo, mas nem sempre , uma vez que somos fadados à repetição e, sair de padrões exige também algum tempo para reflexão, seja acompanhada de um profissional e em auto análise, entretanto poucos são aqueles que o fazem devido ao acima exposto e aspectos que não cabem neste pequeno texto .
Á medida que as máquinas substituem o trabalho humano abre-se um espaço-tempo que alguns ainda não percebem estar conspirando a favor da atenção, do olhar, e do ver, do deixar-se arrebatar e ao encantar-se. Por mais estranho que pareça os que mais reclamam da falta de tempo são aqueles que o perdem pelo desconhecimento de si. Querem leituras breves, inconsistentes, comida pré cozida, texto mastigado, cursos rápidos, prozac, etc... Seremos fruto de uma geração mimada e desencantada ? Ou fruto de uma escola da qual a filosofia foi banida , afinal ao poder dominante não interessa que sejamos pensantes, críticos e muito menos que saibamos para onde ir tampouco qual mundo construir. Erguem-se mansões cada vez mais vazias, nos jardins os bancos estão vazios, ninguém mais assenta-se para simplesmente apreciar o desenvolver-se dos mistérios .
Quem saberá a resposta, penso que os filósofos contemporâneos estão dispostos a dialogar e, quem desejar os irá encontrar.
Fiz um apanhado de fragmentos sobre o verbo Thaumazein, ou seja o início da atividade filosófica passando por Platão Aristótales e Sócrates e os deixo para apreciação.
Thaumazein a tradução do verbo grego, por aproximação, perfazendo a tradição do latin seria admirar-se. " Na verdade, foi pela admiração que os homens começaram a filosofar tanto no princípio como agora" - Aristóteles no início de sua Metafísica-. Na raiz do verbo encontra-se thea que significa ver, olharr atentamente, em estado de arrebatamento este os latinos entendiam como contemplatio, contemplação. E foi o filósofo Platão, no diálogo Teeteto que referiu-se a admiração como um pathos um estado interior sentindo quando algo nos arrebata. Thaumazein foi entendido também como theoria (theorein). "0 ser-possuído pelo olhar, o dever-ser-inteiramente-olhar para o que se apresenta, define a essência da admiração". do "estado de admiração paralizante, o objeto se manifesta, provocando a vontade de saber. Com este querer saber pelo saber, nasce a filosofia” .
Experimentar esta espécie de encantamento constituído pelo fato mesmo de ver é, segundo Platão,
" a paixão que afeta, mais que aos outros homens, o filósofo".


Aristóteles no início de sua extensa obra Metafísica, afirma que a perplexidade humana inicialmente dava-se sobre dificuldades óbvias, esta foi ampliando-se gradativamente até os problemas cosmológicos, ou seja sobre os astros e a gênese do universo. Portanto o que inicialmente arrebatava o espanto admirado do homem era physis, a natureza.
Sócrates foi o primeiro () a voltar-se para o homem e as suas dificuldades.
Por talvez este motivo, grandes pensadores contemporâneos retornam à Aristótales,
vídeo Cláudio Ulpiano - Sobre a estética da existência
creio interessante salientar que os escritos deste ,dividiam-se em duas espécies: as 'exotéricas' e as 'acroamáticas'. As exotéricas eram destinadas ao público em geral e, por isso, eram obras de caráter introdutório e geralmente compostas na forma de diálogo. As acroamáticas, eram destinadas apenas aos discípulos do Liceu e compostas na forma de tratados. Praticamente tudo que se conservou de Aristóteles faz parte das obras acroamáticas. Da exotéricas, restaram apenas fragmentos. Segundo este - O homem que é tomado de perplexidade e admiração julga-se ignorante ; portanto, como filosofavam para fugir à ignorância, é evidente que buscavam a ciência a fim de saber, e não com uma finalidade utilitária. E isto é confirmado pelos fatos, já que foi depois de atendidas quase todas as necessidades da vida e asseguradas as coisas que contribuem para o conforto e a recreação, que se começou a procurar esse conhecimento.

Para finalizar reproduzo as palavras do Dr. em Filosofia, Newton Aquiles von Zube * -
Reconhecendo-se parte integrante da tríade Eu-Natureza-Outro, a compreensão da natureza (mundo) e do outro articula-se dialeticamente com a compreensão de si. "Quem sou eu?" é a manifestação primeira do homem como questionador, como logon echon (o que tem a palavra). " O que admira quer dar a palavra ao seu objeto: logon didónai( Stein l975). E acrescenta, "esta possibilidade de dar palavras, logon didónai, se fundamenta no fato de que ela é primeiro possuída. O homem, no pathos da admiração, é posto em movimento em sua própria essência enquanto é: logon echon (o que tem palavra). " O arcabouço desta palavra originária, ou da linguagem como arché (princípio), onde estão vazadas as relações Eu-Mundo-Outro, definirá a "condição humana" como situação e transcendência. Sobre esta palavra originária que caracteriza o ser humano irá constituir-se, hoje, a linguagem como instrumento de conhecimento e como comunicação.
* Université de Louvain -Prof. Titular - Faculdade de Educação da UNICAMP)
imagem- internet-Alexandre e Aristóteles

virgínia fulber, terapeuta e além mar poeta-membro Poetas del Mundo, da AVBL e Coordenadora do Canal de Filosofia do Espaço Ecos Portal VMD -