*ArteFilosPsiPoesia*
Não ser amado é falta de sorte, mas não amar é a própria infelicidade." Albert Camus ( For there is merely bad luck in not being loved; there is misfortune in not loving)- A.Camus The myth of Sisyphus, and other essays - Página 201)
Nietzsche “Para viver sozinho, é preciso ser um animal ou um deus - diz Aristóteles. Falta ainda a terceira alternativa: é preciso ser os dois ao mesmo tempo - Filósofo...”
"As únicas coisas eternas são as nuvens." -Mário Quintana
Ontem falei com uma amigo de várias décadas que vive do outro lado do mar. Os afetos povoaram meus sonhos e acordei impregnada de imagens e, do rumor das ondas do mar e dos tempos em que traçamos rumos tão distintos e, ao mesmo tempo iguais. A intensidade das palavras multiplicaram belezas, subtraíram cansaços, somaram afetos e foram divididos recortes de vida; a cumplicidade tem resistido ao tempo e às distâncias . Nossas conversas sempre
foram marcadas por disfluências, pausas suficientes para inspirar e expirar significados ... Não sei por quantos anos ainda iremos comemorar nossos aniversários através das ondas, pois que das incertezas estamos marcados. Não sei também se algum dia, lado a lado celebraremos e, se estaremos novamente vestidos com sonhos de proporções e transparências similares. Embora em vias paralelas andamos, foram os momentos de confluências que contaram e ainda contam. Creio, não ser possível esculpir em pedra , dada a quantidade de expressões que nos escaparam e os afetos que continham, mas arrisco dizer que nas areias intemporais algo foi inscrito e, este algo que nos escapa flui através da voz do vento.
(confluência - mobilidade de fluxos que convergem, direções que se juntam, encontro entre dois caminhos, ruas ou avenidas, dois rios que passam a correr em um leito comum )
A linda estrela afugentou as nuvens,radiante encontra-se o coração.Pequenas flores já se dão em esplendor. O invisível se fez visível e as cores aí estão. O calor afugentou tristeza dando lugar à esperança;aproxima-se o final de dolorosa estação. De parto difícil, já boas são as novas que me trazem; Jardins interiores refeitos, resplandecem em peitoris. São de janelas amplamente abertas ora minha feliz visão. Reencontro varais repletos de espuma e perfumadas hordas, serão os anjos da anunciação em suas cordas ? Recompensa à espera se fez no abraço e, agradecida pela acolhida de sentimentos,a roda da vida deixa-se brincar no arco de luar e, então.é quando se deixa à vista a existência aredondando-se em louvor e prece bem no centro de cada uma das margaridas... virgína além mar RS Brasil 25 de agosto 09
Perdoem-me amigos, estou de partida, despeço-me da ausência escondida, uma pérola perdeu a cor, outrora comovida. Das areias quentes tenho saudade e só por isto movo-me em sofreguidão. Haverá de se fazer uma estrela antiga renascer, por mais que se sinta que ela ainda vibra e, com sua luz embutida constrói-se sonhos nas noites de rede e folclórica ilusão. Creio que não renascerá mesma chama. Estamos em despedidas, dói um pouco saber que o que fomos se foi para sempre e que as sementes das chamas dormitam em lama. Hoje mais que antes sabemos da impermanência e do quanto a paisagem se transforma e, nosso rosto pede o sorriso do encanto que se foi. Morremos a cada página escrita, a cada olá já em despedida . Perdoem meus amigos assim como chego já parto. Também vos perdôo por viverem a efêmera sua, também vida. Que o encanto que ficou no retrato seja resguardado da dor que houve e não pode ser aliviada. Que o esplendor reine sobre desassossegos e nos abra aos momentos que ainda virão galopando miragens. Anseio ainda , dizer-vos que tal qual membrana híbrida fortaleço-me em cada despedida e, assim espero que façam e ousem adentrar a monotonia com tamanha fibra, para que sobre nós alguma sentença seja proferida; houve perseverança, lutaram e deixaram-se transformar !
-A paternidade está, pois ligada ao fato de falar -
-Não há pai senão com a palavra, a partir das palavras. Sem palavra, haveria genitores, grandes machos copuladores, mas ninguém poderia dizer-se “pai”-
A função paterna é a de oferecer os recursos necessários à provisão dos filhos, com afeto e maior proximidade entrepai e filho. Seu papel é o de facilitador e condutor do desenvolvimento do filho, de maneira a permitir amenizar os percalços do mal estar da civilização que, passados os 150 anos do nascimento de Freud, abrem em nossa cultura, outras formas de mal-estar: a delinqüência, a toxicomania, a indiferença, o terrorismo e a massificação do singular no seio da cultura. O pai representa a possibilidade do equilíbrio regulador da capacidade da criança investir no mundo real. Seu contorno se dá no processo de desenvolvimento, de acordo com a etapa da infância. Freud (1914) explica que para a criança, num primeiro momento, o próprio Deus é apenas uma exaltação da imagem do pai. Cedo, porém, o pai é identificado como o perturbador máximo da vida instintiva dela: torna-se um modelo a ser imitado, mas também a ser eliminado, para tomar o seu lugar. “É nessa existência concomitante de sentimentos contrários que reside o caráter essencial daquilo que chamamos de ambivalência emocional.” (FREUD, 1914:249).
apenas no século XX surge a imagem do pai-educador, encarnada à família nuclear, urbana e burguesa. Essa imagem desenvolve-se, com o que se denomina “o novo pai”: aquele que conduz a criança, aquele a quem a criança chama de papai.
O pai genitor da criança seria um fundamento suficiente para se manter uma definição irredutível do ser-pai. “No entanto, pretender fundar a paternidade sobre a verdade biológica, é fazer evidenciar ainda sua fragilidade” (JULIEN, 1997:45). Dois tipos de discursos sustentaram o novo direito da mulher sobre a criança. Um é que durante muito tempo, a paternidade era presumida: legalmente, o pai era o marido da mãe. Desde a lei francesa de 1792, isso não é mais assim. A lei não assegura mais para o homem amado pela mãe, a condição de genitor. E o outro é que a procriação – a inseminação artificial - permite à mulher ter um filho sem o encontro sexual com o genitor. Os avanços tecnológicos provocam esse tropeço para a paternidade. A paternidade biológica torna-se irrisória.
Para THIS (1987), a palavra “Pai”, o representa, o evoca, o chama. Não há pai senão com a palavra, a partir das palavras. Sem palavra, haveria genitores, grandes machos copuladores, mas ninguém poderia dizer-se “pai”, “filho”. A paternidade está, pois ligada ao fato de falar . Por isso dizer-se pai, uma questão da cultura e, portanto, haver a necessidade de se legitimar no exercício cotidiano da relação pai e filho. Acreditamos ainda que é no âmago dos sentimentos paternos de cada homem, e na teia de relações que eles estabelecem com o complexo-pai (o pai real ou imaginário) que é possível a construção e reconstrução da subjetividade de pai. Ao nível simbólico é o pai quem deve romper o vínculo simbiótico e necessário inicial mãe-filho. A mãe, pelo discurso, vai inconscientemente autorizar (ou não), este pai como um terceiro na relação, que será, a partir daí, o representante da Lei contra o incesto. A criança, então, ingressará na cultura e na linguagem. “Sob a ótica do filho, é um pai opositor, um outro desconhecido que incomoda, inquieta e ameaça o vínculo com esta mãe. Na dimensão psicológica, desenha-se aí o primeiro duelo pela hegemonia do poder” (NOLASCO,1993:83). “O pai está ali para permitir a passagem e o acesso ao mundo simbólico: pôr junto, trinificar. Não é um ou outro, é ao mesmo tempo um e outro. Só a dimensão simbólica permite à criança não pertencer exclusivamente a um ou a outro” (THIS, 1987:176).
A função paterna (que pode ser exercida por outra pessoa, que não o pai biológico), salva a criança e a mãe de patologias mais sérias. “A frustração da pulsão do desejo é referida pela criança ao terceiro objeto que lhe é designado normalmente como obstáculo para sua satisfação: a saber, ao progenitor do mesmo sexo” (LACAN, 1990:42). O complexo de castração, decorrente do Complexo de Édipo, é estabelecido pelo pai que proíbe, frustra, para o bem da criança que aprenderá a ouvir o não e conhecerá limites. A partir de então, ela fará identificações que a levarão a viver sua própria vida, a identificar-se sexualmente e a buscar seus ideais. “Gravita uma oposição entre o filho homem e seu pai, um duelo psíquico que tem expressão nas características violentas e guerreiras que os homens assumiram tão bem” (NOLASCO, 1993:83).Edna Galvão - Artigo: Relação pai x filho: pilar do processo civilizatório. In Periódico Actas Freudianas, Revista da Sociedade de Estudos psicanalíticos de Juiz de Fora, v.III, 2007. 155p.; 26 x18 cm. ISSN 1809-3272.
"a maioria das pessoas teme a filosofia dos gregos como as crianças receiam a assombração; têm medo que ela os arrebate. " Clemente de Alexandria
" O que admira quer dar a palavra ao seu objeto: logon didónai " *
Aprendemos com Nietzsche que o filósofo não necessita isolar-se do mundo, sendo um teórico mas ao contrário aliar a teoria à prática, contemplação e praxis correspondem-se, integram-se, complementam-se. Entretanto o filosofar, produzir algum pensamento necessita do distanciamento. Nossa sociedade voltada para a produção e numa inquietação constante carece de reaprender o ócio que difere do negócio. A atividade contemplativa, assim como o diálogo foram perdendo o valor diante as exigências cada vez maiores de aperfeiçoamento técnico. O ter há muito substituiu o ser; em detrimento da qualidade tornamo-nos quantitativos. Certamente que de uma quantidade de experiências advirá algum conhecimento quantitativo, mas nem sempre , uma vez que somos fadados à repetição e, sair de padrões exige também algum tempo para reflexão, seja acompanhada de um profissional e em auto análise, entretanto poucos são aqueles que o fazem devido ao acima exposto e aspectos que não cabem neste pequeno texto . Á medida que as máquinas substituem o trabalho humano abre-se um espaço-tempo que alguns ainda não percebem estar conspirando a favor da atenção, do olhar, e do ver, do deixar-se arrebatar e ao encantar-se. Por mais estranho que pareça os que mais reclamam da falta de tempo são aqueles que o perdem pelo desconhecimento de si. Querem leituras breves, inconsistentes, comida pré cozida, texto mastigado, cursos rápidos, prozac, etc... Seremos fruto de uma geração mimada e desencantada ? Ou fruto de uma escola da qual a filosofia foi banida , afinal ao poder dominante não interessa que sejamos pensantes, críticos e muito menos que saibamos para onde ir tampouco qual mundo construir. Erguem-se mansões cada vez mais vazias, nos jardins os bancos estão vazios, ninguém mais assenta-se para simplesmente apreciar o desenvolver-se dos mistérios . Quem saberá a resposta, penso que os filósofos contemporâneos estão dispostos a dialogar e, quem desejar os irá encontrar. Fiz um apanhado de fragmentos sobre o verbo Thaumazein, ou seja o início da atividade filosófica passando por Platão Aristótales e Sócrates e os deixo para apreciação. Thaumazein a tradução do verbo grego, por aproximação, perfazendo a tradição do latin seria admirar-se. " Na verdade, foi pela admiração que os homens começaram a filosofar tanto no princípio como agora" - Aristóteles no início de sua Metafísica-. Na raiz do verbo encontra-se thea que significa ver, olharr atentamente, em estado de arrebatamento este os latinos entendiam como contemplatio, contemplação. E foi o filósofo Platão, no diálogo Teeteto que referiu-se a admiração como um pathos um estado interior sentindo quando algo nos arrebata. Thaumazein foi entendido também como theoria (theorein). "0 ser-possuído pelo olhar, o dever-ser-inteiramente-olhar para o que se apresenta, define a essência da admiração". do "estado de admiração paralizante, o objeto se manifesta, provocando a vontade de saber. Com este querer saber pelo saber, nasce a filosofia” . Experimentar esta espécie de encantamento constituído pelo fato mesmo de ver é, segundo Platão," a paixão que afeta, mais que aos outros homens, o filósofo".
Aristóteles no início de sua extensa obra Metafísica, afirma que a perplexidade humana inicialmente dava-se sobre dificuldades óbvias, esta foi ampliando-se gradativamente até os problemas cosmológicos, ou seja sobre os astros e a gênese do universo. Portanto o que inicialmente arrebatava o espanto admirado do homem era physis, a natureza. Sócrates foi o primeiro () a voltar-se para o homem e as suas dificuldades. Por talvez este motivo, grandes pensadores contemporâneos retornam à Aristótales, vídeo Cláudio Ulpiano - Sobre a estética da existência creio interessante salientar que os escritos deste ,dividiam-se em duas espécies: as 'exotéricas' e as 'acroamáticas'. As exotéricas eram destinadas ao público em geral e, por isso, eram obras de caráter introdutório e geralmente compostas na forma de diálogo. As acroamáticas, eram destinadas apenas aos discípulos do Liceu e compostas na forma de tratados. Praticamente tudo que se conservou de Aristóteles faz parte das obras acroamáticas. Da exotéricas, restaram apenas fragmentos. Segundo este - O homem que é tomado de perplexidade e admiração julga-se ignorante ; portanto, como filosofavam para fugir à ignorância, é evidente que buscavam a ciência a fim de saber, e não com uma finalidade utilitária. E isto é confirmado pelos fatos, já que foi depois de atendidas quase todas as necessidades da vida e asseguradas as coisas que contribuem para o conforto e a recreação, que se começou a procurar esse conhecimento.
Para finalizar reproduzo as palavras do Dr. em Filosofia, Newton Aquiles von Zube * - Reconhecendo-se parte integrante da tríade Eu-Natureza-Outro, a compreensão da natureza (mundo) e do outro articula-se dialeticamente com a compreensão de si. "Quem sou eu?" é a manifestação primeira do homem como questionador, como logon echon (o que tem a palavra). " O que admira quer dar a palavra ao seu objeto: logon didónai( Stein l975). E acrescenta, "esta possibilidade de dar palavras, logon didónai, se fundamenta no fato de que ela é primeiro possuída. O homem, no pathos da admiração, é posto em movimento em sua própria essência enquanto é: logon echon(o que tem palavra). " O arcabouço desta palavra originária, ou da linguagem como arché (princípio), onde estão vazadas as relações Eu-Mundo-Outro, definirá a "condição humana" como situação e transcendência. Sobre esta palavra originária que caracteriza o ser humano irá constituir-se, hoje, a linguagem como instrumento de conhecimento e como comunicação. * Université de Louvain -Prof. Titular - Faculdade de Educação da UNICAMP) imagem- internet-Alexandre e Aristóteles