Monday, October 30, 2006

Gratuidade das aves e dos lírios


Gratuidade das aves e dos lírios

Sempre que as gratuidades pousam em minhas palavras, elas são abençoadas por pássaros e por lírios.
Os pássaros conduzem o homem para o azul, para as águas, para as árvores e para o amor.
Ser escolhido por um pássaro para ser a árvore dele: eis o orgulho de uma árvore.
Ser ferido de silêncio pelo vôo dos pássaros: eis o esplendor do silêncio.
Ser escolhido pelas garças para ser o rio delas: eis a vaidade dos rios.
Por outro lado, o orgulho dos brejos é o de serem escolhidos por lírios que lhes entregarão a inocência.
(Sei entrementes que a ciência faz cópia de ovelhas Que a ciência produz seres em vidros Louvo a ciência por seus benefícios à humanidade Mas não concordo que a ciência não se aplique em produzir encantamentos.)
Por quê não medir, por exemplo, a extensão do exílio das cigarras ?
Por quê não medir a relação de amor que os pássaros têm com as brisas da manhã ?
Por quê não medir a amorosa penetração das chuvas no dentro da terra?
Eu queria aprofundar o que não sei, como fazem os cientistas, mas só na área dos encantamentos.
Queria que um ferrolho fechasse o meu silêncio, para eu sentir melhor as coisas increadas.
Queria poder ouvir as conchas quando elas se desprendem da existência.
Queria descobrir por quê os pássaros escolhem a amplidão para viver enquanto os homens escolhem ficar encerrados em suas paredes ?
Sou leso em tratagem com máquina; mas inventei, para meu gasto, um Aferidor de Encantamentos.
Queria medir os encantos que existem nas coisas sem importância.
Eu descobri que o sol, o mar, as árvores e os arrebóis são mais enriquecidos pelos pássaros do que pelos homens.
Eu descobri, com o meu Aferidor de Encantamentos, que as violetas e as rosas e as acácias são mais filiadas dos pássaros do que dos cientistas.
Porque eu entendo, desde a minha pobre percepção, que o vencedor, no fim das contas, é aquele que atinge o inútil dos pássaros e dos lírios do campo.
Ah, que estas palavras gratuitas possam agora servir de abrigo para todos os pássaros do Brasil! Manoel de Barros Campo Grande, 27 de outubro de 1999
foto virgínia Refúgio NH/RS/Brasil
Um músico do nosso tempo - chamado Olivier Messiaen - vai fazer uma distinção entre quatro tipos de canto de pássaros. Diz ele, que na primavera, os pássaros, praticamente todos eles, fazem o canto do amor - que é um canto de sedução, geralmente feito pelos machos. Esse canto de amor - evidentemente - tem uma função específica: serve à espécie - porque o amor permite a reprodução; e serve aos prazeres do indivíduo. Seria esse canto - que eu chamei de canto de amor - que ocorre em todas as primaveras. O outro tipo de canto, diz ele, que é entendido por todo e qualquer pássaro - é o grito de alarme. Os pássaros - através do gorjeio - fazem o canto de amor e o grito do alarme: dois cantos que estão a serviço do que eu passarei a chamar, nesta aula, de CORPO ORGÂNICO. Ambos os cantos estão a serviço do organismo - das funções dos órgãos; no sentido de que um canto - o canto de amor - tem como único objetivo prestar um enorme serviço à espécie; ou seja - à evolução da espécie; e assim por diante. Mas, de outro lado, Messiaen vai falar num terceiro canto (por enquanto, eu vou deixar o [quarto] entre aspas). Esse terceiro canto, de que Messiaen nos fala, é o canto que alguns pássaros fazem para o pôr do sol - ou [melhor]: para o crepúsculo e para a aurora. Esse canto não tem nenhum objetivo orgânico e não presta nenhum serviço à espécie ou ao indivíduo: é o canto gratuito - que o pássaro produz, não importa os perigos que ele corra. Segundo Olivier Messiaen, [o canto gratuito] é de uma extraordinária beleza! E quanto mais forte for o crepúsculo; quanto mais se espalhar a cor violeta; e quanto mais bonita for a aurora - mais esplendorosos os temas e motivos que o pássaro canta. A partir dessa colocação, é evidente que há uma diferença do canto da primavera e do grito de alarme para o canto gratuito - porque esse canto é gratuito [exatamente] porque não presta nenhum serviço ao organismo ou à espécie. Se, de algum modo, eu me fiz entender; se alguma coisa do que eu falei atravessou... (caso contrário, mais adiante eu farei com que vocês entendam!) - eu marquei claramente a existência - pelo menos nos pássaros - de dois tipos de corpo: um corpo orgânico, que está sempre a serviço da espécie e do indivíduo; e um corpo que, por enquanto, eu só posso chamar de um corpo estético. No caso dos pássaros, é um corpo que fica de tal forma tocado diante das luzes, da claridade e das cores que o crepúsculo e a aurora produzem, que começa a [emitir] - Atenção! - ondas rítmicas: ele gera ondas rítmicas, que se encontram com as forças da natureza. E quando o ritmo se encontra com as forças da natureza - isso se chama SENSAÇÃO. - O que é a sensação? Porf Claudio Ulpiano - primeira aula do Curso de Verão 4/01/1995Corpo orgânico e corpo histérico - na íntegra transcrita no http://www.claudioulpiano.org.br/

Tuesday, October 24, 2006




na languidez da tarde
versejantes arcos
lançam íris
a lamber aragens
num rastro úmido
dentre os lábios
sete cores
sorriso dá-se ao sol
como lagarto

Monday, October 23, 2006

Dança, Letra & musicalmente -VIVER ...




















“Eu só poderia crer num Deus que soubesse dançar." -- Friedrich Nietzsche em "Assim Falou Zaratustra"

“Zaratustra é um dançarino -: como aquele que tem a mais dura e terrível percepção da realidade, que pensou o ‘mais abismal pensamento', não encontra nisso objeção alguma ao existi
r, sequer ao seu eterno retorno – antes uma razão a mais para ser ele mesmo o eterno Sim a todas as coisas, ‘o imenso ilimitado Sim e Amém” Nietzsche in Ecce Homo Pg 90 Companhia das Letras



Sunday, October 15, 2006


mergulhares

Avesso
interdito
mudo/mundo
TUDO
HUMMMMMMMMMMM
OMMMMMMOMMMMM
Oceâno vibrando
mergulhados
em meus/teus
Olharesmares
Táteis membranas
continuum
Um tesouro
um enigma
uma enguia
pele
corpo sem órgãos
imensidão
entropia
flutuestar
rasga o instante
embriagues
********************
Alquimolhares
se não houvesses em meus dias
como saber dos cacos que em mim gemem
germes dum amanhecer
amoroso espreguiçam
em meio'as águas
de teu generoso olhar!
além mar peixe voador ( virgínia)
Foto Pulsar da Nubulosa de Carangueijo também conhecida como Nebulosa da Borboleta

FetOlhares

fluxos multicor e o peixe voador por volta de 73 escrevia meu olho é um peixe tornei-me olho/peixe
um feixe de afetos
bloco afetivo
em notas
traços aqui e ali
corpo inverso/imerso
maresias
mergulhar ao mar
misturar sangue doçura ao sal ternuranas
telas do Maai Bavoso infância aderência
ardência imanente
seus peixes
fachos luminosos multicoloridos
escamas odores
sabores
tecidos a olho nu
na tela uma Pipa
ressonâncias ingênuas
uma borboleta ao sol carece plena atenção
suas e minhas Janelas abertas
ao saber/sabor
intensidades adentram estrelas
cidades luolhares
Lua ensina conservar a cor
rubra estima
tracinhos crepitam aqui
ao som estelar
amigo
desenha pra mim um peixe voador e bailemos além
**********

Eterna jovialidade Em fórmula simples a complexidade do universo
querer bem é saber bem olhar
atenta ao instante te vejo recebo novo
em sopro de brisa perfumada
em correnteza graciosa
teus olhos peixes fora do aquário
nos meus mergulham
tal passo de gazelafaço-me distante
presente
sempre aos teus olhos diferente
ouviste soar os sinos?
ouviste as flautas sibilares que alagam a visão ?
por olhares alargados peito assoviatorno-me guria peixe voador
virgínia além mar ( peixe voador )