Sunday, September 23, 2012

Do prazer estético e anseios de liberdade ... ... *Virgínia vicamf


Do prazer estético  ... *Virgínia vicamf 
 A visão sem dúvida é um dos principais sentidos a serem desenvolvidos após ou juntamente com o paladar já que a audição é um sentido que não descansa nunca e o tato, a pele faz parte do sistema respiratório, e o olfato é  o mais aguçado sentido do animal em nós... portanto fora de questão neste pensamento que ora me ocorre sem bases ciêntificas.

O olhar da mãe é nosso primeiro espelho através do qual passamos a entender o quanto somos aceitos, e através do qual vemos o mundo enquanto em simbiose perfeita.
O contato com o seio do qual provém o primeiro alimento essencial não apenas é fonte de alimento com objeto de desejo que desenvolve a oralidade, o desejo de viver e degustar, sobreviver . No  colo ganhamos o calor humano do qual teremos necessidade por toda existência
Ainda nos primeiros meses de vida  reconhecemos o tom da  voz da mãe, seus passos de longe anunciados e ansiada. Esta necessidade da  presença  carregamos e transferimos mais tarde para o outro...

Mas quero falar do quanto as cores pronunciadas pelo contato da luz me fascinava e a todos, enquanto pequeninos, os movimentos visíveis do vento na folhagem, as mudanças de tons, sombras a profundidade percebidas fundamentos das mais finas sutilezas a aprendermos para guiar-nos e mover-nos no mundo novo que passamos a pertencer nos primeiros anos de vida.

No meu terceiro aniversário ganhei inúmeras revistas de colorir e caixas de lápis de cores,  de um querido padrinho (falecido a muitos anos), naquela noite não conseguia dormir, ansiosa para continuar a colorir meu livros. Fui à cama de meus pais perguntar  se já era hora de levantar por volta das duas da manhã. Minha mãe aconchegou-me junto a eles e no conforto consegui adormecer novamente, mas não por muito tempo. Antes da cinco da madrugada não resisti ao abrir os olhos e ouvir os pássaros já em plena atividade. Saltei da cama e meu  tesouro peguei, sorrateiramente e fui à varanda deliciar-me com a grande aventura de preencher os animais em branco com as diversas cores.

Esta lembrança é tão clara, agora novamente relatando-a sinto a imenso prazer  proveniente do "fazer". Uma sensação de potência no ato simples mas   magico de   dar vida aos desenhos de animais, às araras principalmente,  já as havia visto, portanto sabia das suas  penas multicoloridas. 

Ao som dos sabiás, que na minha imaginação tornaram-se aves míticas, com grandes caudas como as  das araras que comecei a colorir. Os elefantes,  não os queria cinzas pintei-os de azul claro como o céu, a grama verde inventei coloquei flores e um monte de capim verde escuro para que eles se alimentassem.

O dia começou a clarear e patos  tinha asas rosadas e amarelas como os pintinhos que conheci na estância de minha avó, seus bicos muito vermelhos nadavam no lago azul noite. Galinhas de penas rajadas de verde e azul que ‘vizage”, eu podia reproduzir o que meus olhinhos com grande admiração viram e recordavam, agora tinhas meus amiguinhos à mão!

 O sol  de sorriso largo com olhos e orelhas desenhei inventando um ambiente que o livro não sugeria.

Foi entre tantos aniversários fenomenais que comemorei,  o mais incrível. Este é o motivo pelo qual iniciei falando sobre a visão e o quanto na infância este sentido é despertado gradualmente e o quanto de prazer a estética é capaz de proporcionar, não sei se o fato de ser libriana intensifica esta característica, fato é que ver e também ouvir inúmeras vezes superam o prazer oral e tátil e sou bastante, diria acima da média cinestésica...   

Certa vez uma amiga me disse que a natureza nos seduz por suas cores e esta seria sua defesa para que a protegêssemos pelo prazer estético com ela concordei sem pestanejar. Infelizmente parece que vamos perdendo a capacidade de enxergar por defesas ...

A mídia explora o prazer estético e nos torna reféns de padrões estéticos que muitas vezes provocam mal estar e não nos damos conta. O exagero de informações visuais, poluição mesmo causa-me náusea que procuro nas cores frias amenizar. Aí, ocorre-me o descanso proporcionado pela visão do grande oceano enlaçando o céu, nosso planeta azul talvez não o seja por acaso à nossa vista humana .

Azuis são os olhos de minha mãe o primeiro e mais intrigante oceano, espelho d´agua que percorri , incógnito, fascinante do qual  separada por e para sempre, sei que mesmo inconscientemente  perssegui e desejei novamente mergulhar para outra vez mais dele revitalizada retornar às cores quentes das plumas das aves selvagens que ganham o  azul maior e mais bonito porque infinito...   virgínia vicamf * 24 setembro 012* 
           
    

1 comment:

Anonymous said...
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