-Somente o filólogo lê lentamente e medita meia hora sobre seis linhas- Nietzsche - A Gaia Ciência
II - O(s) Filme (s)
Refiro-me ao soviético Solyaris, dirigido por Andrei Tarkovski em 1972. ( ver Tarkovski à luz de Blanchot) Solyaris é um planeta formado por um imenso Oceano que leva os cientistas a pesquisa de um novo ramo científico - a solarística, que tem por objetivo estudar a possibilidade de existência de inteligência extraterrestre oriunda deste planeta. Insólitos acontecimentos ocorridos na Estação Espacal que orbita Solaris requerem a presença de um famoso Psiquiatra, Dr. Chris Kelvin, intrepretado por Donatas Banionis, este é enviado para investigar tais acontecimentos...
Assisti no final dos anos 80. Recentemente um amigo perguntou-me sobre a obra , busquei nas locadoras locais, para rever não encontrei em DVD tampouco em VHF. O Carlos S. do Cine Guion informou-me que não consta no catalago disponível, portanto não o podemos encontrar , a não ser nos trechos disponíveis no youtube, ou quem sabe pesquisar melhor na rede, talvez consiga baixar ... Alternativamente encontrei a versão norte americana, 2002, sob direção de Steven Soderbergh. O Psiquiatra é protagonizando por George Clonei.
“Só me interessa a verdade. Não posso guiar-me por impulsos da alma. Não sou poeta.”
O Solaris norte-americano é bastante distinto tanto na fotografia quanto no roteiro. Embora não nos oferece um espetáculo grandiosos como o apresentado pelo diretor soviético, ainda assim é uma exelente oportunidade à reflexão, Gotei!
Creio válido assistir a ambas obras filmicas e, fazê-lo não só uma vez, pois esta ficção cientifica equipara-se a imprescindível obra de Stanley Kubrick 2001 Uma Odisséia no Espaço.
Outra questão interessante é sobre as escolhas que fazemos, conforme aparece em um diálogo “ não há respostas , apenas escolhas ...”
Este texto não é uma resenha, quem desejar por estas poderá encontrar certamente no Google, assim como trechos do filme no youtube. Meu desejo restringe-se à tentativa de compartilhar impressões muito pessoais, nada científicas e tampouco embasadas em qualquer autor. Diz-se que o Filme bom é aquele que começa quando acaba, ouseja que leva-nos à reflexão, ao diálogo com a obra, estas que passo abaixo não se deram-se de imediato,após assistir Solaris fui dormir e, pensei vou rever na semana. Não o fiz mas tirei um tempo, pois as condições climáticas eram favoráveis e pude deleitar-me com um magnífico Poente deixando que ruminar inconsciente sobre a obra aflora-se. Seguem abaixo as considerações PsicoPoéticas, devaneantes. Escolhi compartilhar sem retoques.
Somente a sensação advinda da harmonia é capaz de costurar a ferida narcísica e o sentimento de falta que habita o homem ...
Toda sonoridade do mar, da Poesia, gratuitamente habita os Por de Sóis ...
O homem não se cansa de seu desejo de aprisionar a vida , por medo de perder o que já foi perdido no nascimento, um paraíso ... Resta-lhe abrir-se à oferta da pluralidade de encontros, às matizes de cores e reencontrar a paz em seus oceânicos momentos possíveis...
que é conquista da aceitação de que neste mundo todos nos sentimos de certa forma desamparados e a única segurança é a coragem de não permanecer ancorado ao passado e, às cobranças de que um outro nos deve o que a cada um somente cabe conquistar ; a suprema liberdade de vir a ser o que se é; humano demasiado humano mas livre para fazer opções;
Escolhi meus tesouros e eles são tantos quanto meus sentidos podem perceber;
estão na mente e somente nela guardados meus recortes de infinito, com eles construo a nave que me leva de volta a mim mesma e ao reconhecimento de que o outro humano demasiado é espelho, alguns espelhos do que foi no passado , outros do futuro, é destes últimos que mais gosto, são como as rubras gotas de oceano que habitam o Poente, estão um pouco mais além do demasiado, embora dirijam-se como andarilhos solitários ...
E vocês que escolha fizeram ?
O que gostariam de dizer antes de partir ?
-Você vem – eu te sinto! O meu abismo fala, voltou-se à luz a minha última profundidade!... ... o que pode ser amado no homem, é que ele é um passar e um sucumbir.Amo Aqueles que não sabem viver a não ser como os que sucumbem, pois são os que atravessam. Amo os do grande desprezo, porque são os do grande respeito, e dardos da aspiração pela outra margem. Amo Aqueles que não procuram atrás das estrelas uma razão para sucumbir e serem sacrificados: mas que se sacrificam à terra, para que a terra um dia se torne do além-do-homem [...]Amo Aquele cuja alma é profunda também no ferimento, e que por um pequeno incidente pode ir ao fundo [...] F. Nietzsche - preâmbulo de Zaratustra
7 comments:
Vi Amiga-Irmã tão querida Parabéns!
Que Espetáculo Maravilhoso essa tua postagem!
Um texto para se degustar em goles pequenos
Com Belíssimas imagens! Reflexões saborosas!E dicas que Adoro! Vou procurar o filme
A escolha que fiz... foi dar mais atenção e liberdade aos meus sentidos, e a ouvir minha alma e coração.Foi assim que me descobri mais feliz e poetando... risos...
E que bom te encontrei nessa minha escolha viu...energia pura...
Como você mesma diz...
“Humano demasiado humano mas livre para fazer opções”
Grata por tudo querida professorinha da alma que admiro muito
Beijinhos em revoadas de carinho da Li feliz por te ler
*Grata por teu carinho no meu blog
Vi...Amei*
Minha querida megamestra.. que lindos comentários! Vou procurar pelas obras citadas pois me despertou o interesse tal foi desenhado nesse texto magnifico, peço ainda que me deixe publicar em meu blog esta citação:
"Uma coisa há que se aprender...que tudo passa e nada se leva, tampouco aprisiona-se a não ser a beleza que pelos sentidos fomos capazes de perceber ...
Somente a sensação advinda da harmonia é capaz de costurar a ferida narcísica e o sentimento de falta que habita o homem ..."
(que sensação me causou essas palavras...)
bju saudosos de quem lhe admira,
Marcia
querida MArcinha podes usar minha frase sim contanto que deixes minha assinatura e a referncia ao contexto ex- Uma coisa há que se aprender...que tudo passa e nada se leva, tampouco aprisiona-se a não ser a beleza que pelos sentidos fomos capazes de perceber ...
Somente a sensação advinda da harmonia é capaz de costurar a ferida narcísica e o sentimento de falta que habita o homem ..."virgínia além mar in Gotas de Oceano, outros mundos em III tempos -
muito obrigada por tua leitura, fico feliz que tenhas despertado o interesse por estas películas, o cineasta Andrei Tarkovski foi elogiado por Sartre ,
A crítica e os festivais internacionais cultuavam-no como a um novo Dostoievski. Solaris, cruzamento de ficção científica com ensaio filosófico, consolidou sua reputação dialogando com o 2001 de Kubrick e sugerindo que cada um de nós é responsável por assumir seu passado perante a coletividade.
abraços de muito carinho e admiração tua virgínia
Li Andorinha querida muito obrigada por constante entusiásmo e abertura à escuta desta tua amiga que te adora,
No planeta Solaris, banhado por um oceano pensante, os cientistas da estação orbital vêem surgir a materialização de seus fantasmas, angústias e recordações. Kelvin Psiquiatra , enviado para o local, passa a conviver com o duplo da própria esposa, que se suicidou após uma briga conjugal. Prêmio Especial do Júri Festival de Cannes 1972
sobre o Diretor -
Quando instado a explicar o sentido de seus filmes, Andrei Tarkovski (1932-1986) respondia com a seguinte metáfora: "Você olha um relógio. Ele funciona, mostra as horas. Você tenta compreender como ele funciona e o desmonta. Ele não anda mais. E no entanto essa é a única maneira de compreender..."
Tarkovski passou a vida montando e desmontando "relógios" na tentativa de compreender o funcionamento da vida e do espírito dos homens. Nascido em Moscou, filho do célebre poeta Arseni Tarkovski, Andrei estudou música, pintura e a língua árabe na infância e juventude. Trabalhou em prospecção geológica na Sibéria e só aos 24 anos começou a se interessar por cinema. Aprendeu o novo ofício com Mikhail Romm (Lenin em Outubro) na Escola de Cinema de Moscou, onde realizou o curta Hoje Não Haverá Saída Livre (1959) e o média de conclusão do curso, O Trator e o Violino (1960).
Com o épico introspectivo A Infância de Ivan (1962), Tarkovski fomentou a nouvelle vague soviética dos anos 60. Diante daquela história de guerra vista pelo menino como o inferno na terra, Jean-Paul Sartre a defendeu como peça de "surrealismo socialista". Em seguida veio Andrei Rublev (1966), para muitos sua obra-prima. A biografia poética do pintor de ícones medieval enfatizava a visão do artista não como uma elite, mas como um operário, um artesão gerado pela energia criativa do povo.
A esta altura, Tarkovski já vivia uma situação contraditória na indústria estatal do cinema. Os estúdios Mosfilm concediam-lhe vastos recursos de produção para depois dificultar ao máximo a circulação de seus filmes. Andrei Rublev ficou proibido durante cinco anos por "falta de rigor histórico". A burocracia o acusava de misticismo, violência e irrealismo. A crítica e os festivais internacionais, no entanto, o cultuavam como a um novo Dostoievski. Solaris (1972), cruzamento de ficção científica com ensaio filosófico, consolidou sua reputação dialogando com o 2001 de Kubrick e sugerindo que cada um de nós é responsável por assumir seu passado perante a coletividade.
Era tempo de Tarkovski voltar-se para o seu próprio passado e o de sua mãe em O Espelho (1974), uma complexa odisséia da memória.
Em 1979, ao realizar o sublime Stalker, o cineasta confirmava-se independente dentro do mastodôntico cinema soviético: nem um dissidente padrão, nem um servil cumpridor de cânones.
Nostalgia (1983) e O Sacrifício (1986) serão obras do exílio. No mesmo ano em que as autoridades o impedem de ir à França apresentar Stalker, permitem-no viajar à Itália para filmar Nostalgia, canto de amor à pátria escrito com Tonino Guerra. A busca de locações renderia o semidocumentário Tempo de Viagem. As filmagens suecas de O Sacrifício, já marcadas pelo sofrimento do diretor com o câncer que lhe mataria logo depois, foram registradas no belíssimo documentário Dirigido por Tarkovski, de Michal Leszczylowski.
Nove filmes em 26 anos de carreira parecem pouco aos olhos da estatística. Mas a escala grandiosa da obra de Andrei Tarkovski não se mede por números.
Em Esculpir o Tempo, seu livro de reflexões sobre arte e cinema, ele comparou o trabalho do diretor ao de um escultor que, "guiado pela visão interior de sua futura obra, elimina tudo o que não faz parte dela". O seu cinema tem essa qualidade essencial das obras perfeitas: o que não está ali é excesso.
A INFÂNCIA DE IVAN
ANDREI RUBLEV
NOSTALGIA
O ESPELHO
O SACRIFÍCIO
SOLARIS
STALKER
TEMPO DE VIAGEM
Querida amiga Virgínia, Solaris ,a versão original, russa,chegou-nos aqui no Brasil em meados da década de 70.Estavamos ainda vivendo no mundo a famosa "guerra fria",e no Brasil vivíamos o governo militar.Em minha casa um pai (psiquiatra como eu atualmente),que alem de tudo era um intelectual de esquerda,nao militante,porem bastante engajado em tudo que dissesse respeito ao mundo socialista,que era seu mundo interno tambem.Por que lembrei-me disto agora?Situei o filme no meu contexto pessoal(uma adolescente,cheia de ideais ,e um pai que nos levava a conhecer mundos diferentes do nosso atraves da arte).O filme causou-me a época perplexidade(diante do não entendimento de algumas passagens talvez) e muitas perguntas.Hoje,ao me recordar do filme,compree
ndo algumas das passagens que me soaram sem sentido.Pois desconstruir o formato dos filmes convencionais da época como o diretor fez,causou frisson e indagações, interesse e admiração ...A versão americana eu não vi...Penso que a materialização dos fantasmas na estação orbital SOLARIS, funciona como um sonho e como nosso inconsciente,que insiste em nos assombrar,mesmo longe,no espaço,em outros mundos...Somos seres em cuja memória se inscreveu o tempo, nossa história e nossas angustias diante do que não conseguimos apreender com nossa inteligencia e racionalização e não fugimos de nossa história, do nosso inconsciente...Ele estará sempre a nos assombrar e a nos mover e insistentemente ressurge a cobrar-nos e a trazer-nos culpas e sensações que nos diferenciam dos animais não pensantes.Uma espaçonave como Solaris,que abriga histórias e memórias.PARABENS VIRGÍNIA PELA CRÔNICA! BEIJOS DESTA QUE TE ADMIRA! .
querida Márcia Tigani grata por dar-me o prazer de conhecer mais sobre tua vida, concordo plenamente do incosnciente n. temos como escapar. abraços de plena admiração e amizade sincera, tua virgínia vicamf fulber momberger Nhamburgo RS BR
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