Wednesday, October 22, 2025

Antropologia, filosofia cosmovisão

Como pesquisadora, antropóloga e filósofa não poderia deixar de compartilhar um pouco da visão do mundo dos “ brujos” e e traçar um paralelo entre a filosofia de vida dos toltecas e  David Hume. 

Todo aquele que busca com sinceridade o autoconhecimento é um guerreiro e o guerreiro encontra a liberdade na afirmação de sua própria essência, na necessidade de sua própria natureza. 

"O guerreiro não busca senão a liberdade, a pungente liberdade de ser, completamente, o que é.”- Don Juan Matus da linhagem tolteca

“ Todos nós fomos educados pelo medo. é o resultado da domesticação da infância. o medo é a origem da realidade que percebemos ao nosso redor. O medo é a fonte da doença, da guerra, da alienação da alegria que é nosso direito hereditário.” Don Miguel Ruiz 

Foi através das obras do Antropólogo norte americano de origem latina Carlos Castañeda que a “filosofia” de vida dos toltecas passou a ser difundida. Conceitos desta filosofia tais como Tonal(o mundo já organizado) NAGUAL ( do sustentáculo prévio da organização do mundo) eram até então completamente desconhecidos no universo da letras.
Na década de 60 Castañeda interessado no uso ritual de plantas de poder nas diversas tradições das populações indígenas do México, teve a rara oportunidade de travar conhecimento e estabelecer uma duradoura relação com um extraordinário“brujo “ Yaqui ” nagual”: Don Juan Matus.
A partir desse encontro, numa narrativa que se estende por vários volumes, Castañeda vem apresentando a perplexidade e a controvérsia dos meios culturais do mundo Ocidental sua exposição do sofisticado sistema de conhecimento que permite o acesso as estranhas e múltiplas realidades que compõe o mundo dos feiticeiros, relatando suas experiências com Don Juan, as vicissitudes do aprendizado do método dos feiticeiros e a transfiguração da vivência quotidiana resultante desse processo.
( Os toltecas tradicionalmente, eram definidos por um grupo de pessoas (nativos) que alcançavam um nível refinado de iluminação espiritual que se estabeleceram na região central do que hoje é o México no começo do século X. Sua capital era Tula. Seu território passou a ser invadido por volta do Sec. XII por grupos vindos do norte, estes eram chamados chichimecas e destruíram Tula perto do ano 1160, no entanto adotaram muitos costumes dos toltecas. Os chichimecas englobavam diferentes povos, entre os quais os astecas.) 

Castañeda aproxima-se  inicialmente, como antropólogo do tema de seu estudo um feiticeiro indígena que sabe fazer uso de plantas alucinógenas ( ou”Plantas de Poder”) de acordo com tradições cultivadas desde muito- e testemunha, desnorteado, estranhos fenômenos que Don Juan atribui à ação de entidades extra físicas – os aliados- associadas a essas plantas.

Num segundo momento, Don Juan relata ao já abalado Castañeda o conjunto de Princípios e procedimentos éticos que constituem o ideário do Guerreiro do que, percebendo a morte sempre à espreita a um braço de distância, empenha-se com todo o vigor em adquirir, perante a vida, uma postura impecável que o conduza pelo caminho com o coração que todo aspirante a tornar-se um verdadeiro Homem de Conhecimento deve aprender a traçar e seguir. 

O Homem de Conhecimento, ensina Don Juan, encontra-se disponível por Inteiro, pronto a lançar todo o seu ser no abismo de cada acontecimento, aceitando completamente o incompreensível fluxo da Vida. Mercê de um rigoroso autodomínio e de uma determinação inflexível , o guerreiro alcançará outros padrões de percepção e conhecimento que o levarão a percorrer outros patamares da existência, de acordo com o poder pessoal que houver acumulado em sua Prática irrepreensível, até atingir o pleno entendimento.
O Terceiro momento, enfim, consiste na revelação de que Don Juan 
é um Chefe mágico, o” nagual” de um grupo de feiticeiros e outros aprendizes que participa de um projeto conjunto de aperfeiçoamento e libertação. 
Don Juan, bem como seus próprios mestres e antecessores,filia-se a uma antiga linhagem de videntes feiticeiros que remontaria aos Toltecas, um poderoso ( e, para alguns, mítico) povo que habitava o México desde muito antes do domínio Asteca e da conquista Espanhola. Todavia, ao contrário dos antigos videntes que buscavam, através de Ingentes sacrifícios, a obtenção de poder temporal e de imortalidade física,os novos Videntes( como Don Juan) têm como suprema aspiração a liberdade. 
Uma vez constituído o grupo apropriado de guerreiros e guerreiras, e tendo sido preparado o grupo de aprendizes que o substituirá, o nagual conduz essa verdadeira máquina mágica rumo à realização final, ativando o processo que lançará sua essência, qual uma Flecha luminosa, no coração da fonte infinita de tudo: a Águia. Assim, consumidos por este fogo interior,o nagual e seu grupo mágico obtém a liberação da morte não pela fixidez da permanência, mas pela identificação afirmativa e desejada com o próprio tecido básico da existência.
Para compreendermos o sentido desse processo de profunda afirmação e o que significa o encontro com a Águia, alguns comentários genéricos são indispensáveis. 
As práticas de saber do Ocidente caracteriza-se tradicionalmente por uma postura racionalista que prescreve o uso de cálculos abstratos para obtenção de leis que subordinariam os acontecimentos encadeando-os em séries causais.
Assim, bem de acordo com sua raiz Platonica, o pensamento Ocidental contempla o Universo e elabora enunciados cuja veracidade é garantida por esse procedimento cognitivo abstrato.
Para Don Juan, no entanto, a produção de verdade se concretiza através de vivências com o corpo, de realizações (insights) da compreensão do participante da experiência.
Consideremos um exemplo sugestivo: Don Juan solicita a Castañeda que, no terreiro de sua casa , encontre o“melhor lugar”. Castañeda principia por uma abordagem utilitária: procura o lugar mais confortável. Insatisfeito, tenta a seguir uma solução estética, buscando o ponto mais agradável, de onde se descortine a vista mais bonita; tampouco é o bastante. Finalmente, após contorcer-se e rolar sucessivas vezes pelo solo do terreiro, Castañeda logra distinguir um ponto que seu corpo indica como o mais apropriado- e, uma vez aí instalado, sente-se extraordinariamente bem. Desse modo, segundo o método dos feiticeiros a verificação de assertivas não se fez isolada do corpo, desconectada das sensações do corpo;o pensamento não contempla, age.
Para que possamos aferir as devastadoras consequências da adoção deste ponto de vista francamente empirista se faz necessário analisar a difícil questão das regularidades que os fenômenos do mundo manifestam.
Seguindo David Hume, filósofo empirista inglês do século XVIII, suponhamos que no mundo não haja senão fatos. Ou seja, o mundo não é senão uma multidão de fatos apreendidos por um percebedor. Como é possível então explicar-se as regularidades, as simetrias, as invariâncias exibidas pelos acontecimentos se a própria noção de sucessão de fatos é exterior aos fatos? Como poderia se constituir o conhecimento neste mundo puramente factual? O Ocidente Platônico prescreve que o conjunto dos fatos deve receber a ação abstrata da Razão –de modo a que os fatos percebidos possam ser regularizados e submetidos a leis, o que irá assegurar a continuidade das cadeias de causas e efeitos. Hume, todavia, não superpõe essa entidade transcendental- a Razão – aos acontecimentos do mundo; é a natureza da percepção humana, diz ele, que atirando-se sobre os dados empíricos os organiza em repetições e regularidades. A ordem do mundo, portanto, não é intrínseca ao mundo ele mesmo, não é uma característica essencial do Universo, e sim promovem da atividade da natureza humana. Essa conclusão temerária implica que a percepção do mundo é componente indissociável de sua construção; perceber o mundo é , efetivamente, criá-lo.
Eis aqui a incrível modernidade de Don Juan: para ele, os fatos 
( todos os fatos possíveis existem, na Águia) são atualizados pela natureza perspectiva dos seres. Assim, a cada espécie de percepção corresponde, concretamente, um outro mundo. Estilhaça-se a concepção de Uni-verso, de uma única versão da existência; a multiplicidade de seus perceptivos implica a infinita multiplicação de mundos, delineia um multi-verso.
O guerreiro, tendo aprendido a manipular sua capacidade perceptiva, habilita-se a partilhar de vários mundos, de diferentes realidades. A cada fixação da percepção corresponde a cristalização de uma regularidade, de um tipo de realidade; o guerreiro não encontra leis acabadas no mundo, e sim se insere em diferentes gestalts.
Daqui podemos principiar e aprender a explicação dos feiticeiros: o que chamamos de “mundo” provem de uma percepção fixada; a arte do guerreiro consiste em manipular adequadamente sua percepção de modo a ultrapassar as variedades do TONAL ( o mundo já organizado) para atingir a potência do NAGUAL ( do sustentáculo prévio da organização do mundo). 
Aprendendo a VER, o guerreiro visualiza o homem como um glóbulo de vibrante energia luminosa onde há uma região específica – o ponto de montagem- na qual se realiza a fixação da percepção e, por conseguinte, a concretização do mundo. Tudo o que existe, na verdade, é composto por emanações da águia, que é um padrão complexo e universal de energia-percepção. Essas emanações da Águia, seguindo os videntes, são eternas, energéticas, ativas, cheias de força. Perceber - ou ser- consiste em alinhar emanações de “dentro” do glóbulo com emanações de “fora”;a diferentes modos de percepção estarão associados diferentes modos de ser ( que Don Juan chama de “bandas de existência” ).
No domínio da percepção reside a chave para os outros mundos; eis porque Don Juan divide a compreensão humana em três estágios : O do conhecido ( nossa consciência Quotidiana), doDesconhecido ( que o guerreiro pretende abordar) e o Desconhecível ( a Águia imensurável). 
A Águia é o Todo-Uno-Múltiplo, é o fundamento de tudo, é como uma música que nunca é totalmente ouvida embora seja cantada em todos os tons por todos os seres. 
As afecções naturais dos seres constroem ordens no múltiplo e desse modo a vida é uma interligação paradoxal entre emanações da Águia “dentro” e “fora” dos seres; morrer é apenas a libertação das emanações “dentro”, a explosão do Glóbulo; no caso dos humanos não guerreiros, sua consciência serve de iguaria para deleite da Águia, que muito aprecia consciências tenras e imaturas...
A extraordinária beleza do estranho mundo dos feiticeiros pode então ser entrevista: O fundo do mundo ferve de criatividade, a única eternidade é a mutação, a única imobilidade é a do permanente fluxo de tudo. 
A impecabilidade do guerreiro lhe possibilita acumular energia para deslocar seu ponto de montagem e, modificando o alinhamento de supercepção, participar de outras formas de existência – um risco mortal, uma aventura terrível que só o humor e a mais profunda compaixão permitem suportar.
Controlando a energia-percepção que compõe todas as coisas, o guerreiro ultrapassa o senso comum e a costumeira mesquinhez da existência humana rumo à plena Consciência energética, que é a identificação com o fundamento de tudo, com a Águia Infinita. 

Deste modo, alcança-se a verdadeira liberdade, a de seguir os ditames inflexíveis, os comandos incontornáveis da Águia. 
O guerreiro encontra a liberdade na afirmação de sua própria essência, na necessidade de sua própria natureza. 
Acaso e destino jogam com o guerreiro um grande jogo, nos encontros de corpos e o domínio da percepção (e não uma regra moral de necessidade humana) traçam seu caminho, segundo uma ótica que é, de fato, uma energética. 
O guerreiro, diz don Juan, não busca senão a liberdade, a pungente liberdade de ser, completamente, o que é.

 <<<Para  os amigos do coração transcrevo do Livro Os Quatro Compromissos -O Livro da Filosofia Tolteca>Editora Best Seller- 1997>de Miguel Ángel Ruiz (1952)*.
“ Todos nós fomos educados pelo medo. é o resultado da domesticação da infância. o medo é a origem da realidade que percebemos ao nosso redor. O medo é a fonte da doença, da guerra, da alienação da alegria que é nosso direito hereditário. (...) Don Miguel Ruiz
"Quando crianças, não tivemos oportunidade de escolher nossas crenças, mas concordamos com a informação que nos foi passada sobre o sonho do planeta por intermédio de outros seres humanos... Crianças acreditam em tudo o que os adultos dizem. Concordamos com eles, e nossa fé é tão forte que o sistema de fé controla todo o nosso sonho de vida. Não escolhemos essas crenças e poderíamos nos ter rebelado contra elas, mas não tivemos força suficiente para realizar essa rebelião. O resultado é ceder às crenças com nosso consentimento. 
Chamo esse processo de a domesticação de seres humanos.
E por intermédio dessa domesticação aprendemos como viver e como sonhar. Na domesticação de seres humanos, a informação do sonho exterior é conduzida para o sonho interior, criando nosso sistema de crenças. Primeiro a criança aprende o nome das pessoas e das coisas: mamãe, papai, leite, garrafa. Dia a dia, em casa, na escola, na igreja e na televisão, nos dizem como viver, que tipo de comportamento é aceitável. O sonho exterior nos ensina a ser um ser humano. Temos um conceito completo sobre o que é uma "mulher" e o que é um "homem". Também aprendemos a julgar: julgamos a nós mesmos, julgamos as outras pessoas, julgamos os vizinhos.
...Treinamos nossos filhos, aos quais amamos tanto, da mesma forma que treinamos qualquer animal doméstico: com um sistema de castigos e recompensas. Dizem-nos: "Você é um bom menino" ou "Você é uma boa menina" quando fazemos o que mamãe e papai querem que a gente faça. Quando isso não acontece, somos "meninos maus" ou "meninas más".
Nas oportunidades em que fomos contra as regras, nos puniram; quando agimos de acordo com elas, ganhamos uma recompensa. Fomos castigados muitas vezes por dia e recompensados muitas vezes por dia. Logo ficamos com receio de sofrer o castigo e também com receio de não ganharmos a recompensa. A recompensa é a atenção que conseguimos de nossos pais, ou de outras pessoas como irmãos, professores e amigos. Logo desenvolvemos necessidade de captar a atenção de outras pessoas para conseguir a recompensa".
E assim ele diz que através daquilo que nos foi passado, sem que pudéssemos escolher firmamos compromissos conosco mesmo, com as pessoas, com nosso projeto de vida, com Deus, com a sociedade, com os pais, com o cônjuge, com os filhos. Porém os mais importantes são os que firmamos com nós mesmos, onde acabamos por rotular e pré estipular a forma como somos, pensamos e agimos, e muitas vezes não temos uma visão saudável de nos mesmos e achamos que não somos capazes de alterar esta "forma de ser", e assim estes compromissos nos fazem sofrer e então fracassamos na vida, pois ao invés de serem projeções positivas são idéias que enfraquecem nosso poder pessoal.
Mas Don Miguel em seu livro nos ensina quatro compromissos que possuem um grande potencial de transformação se colocados em prática, pois podem devolver nosso poder pessoal nos ajudando a transformar a realidade imposta para a realidade que desejamos de maneira consciente.
Os quatro compromissos são:

1- Seja impecável com sua palavra
Este é o mais importante e também o mais difícil de cumprir. A palavra tem poder. Ela é sua capacidade de expressar e comunicar tudo o que você pensa e sente. Assim ela pode te libertar ou te escravizar, pois tem o poder de criar. 
Ser impecável é não contrariar sua natureza, assumindo responsabilidade por seus pensamentos e sentimentos e atos, sem julgamentos ou culpas. 
Usar a palavra na direção da verdade dissolve todo o medo e transforma em alegria e amor, ajudando a criar uma realidade diferente.
2- Não leve nada para o lado pessoal
Seja o que aconteça com você, não leve para o lado pessoal. 
Se alguém fizer um comentário maldoso como: "Você é um estúpido", sem conhecê-lo, quem o fez não esta falando de você e sim de si mesmo. Se você levar para o lado pessoal, você vai afirmar para si mesmo que é estúpido e até possa pensar assim: "Como ele sabe? Será clarividente ou todos percebem que sou estúpido?". Se você levar tudo que for dito para o lado pessoal é como se você confirmasse que o que esta sendo dito é verdade e então esta crença passa a fazer parte da sua auto-imagem, e ai pronto, o veneno já esta instalado, o outro jogou e você acolheu. 
Por isso temos que aprender a filtrar e perceber que o que o outro diz sobre você é a visão que ele tem de si mesmo.
3- Não tire conclusões
Temos a tendência a tirar conclusões sobre tudo e levamos para o lado pessoal. Acreditamos sempre que a nossa forma de pensar e agir é a correta e assim tiramos nossas conclusões precipitadamente culpando e reagindo, enviando veneno emocional com nossas palavras. Sem perceber fazemos comentários e "fofocamos" sobre nossas conclusões e então transferimos uns com os outros estes venenos por nossa ótica pessoal sobre alguém ou alguma situação. E com certeza o dia que você parar de tirar conclusões sua comunicação será clara e livre dos "achismos" que são os venenos emocionais e todos os seus relacionamentos irão se transformar.                                    4-Dê sempre o melhor de si
Neste compromisso colocamos em prática todos outros compromissos. É o que nos coloca em estado de alerta para que "Façamos o melhor", pois tudo depende de nós. Na maioria das vezes só agimos quando esperamos por uma recompensa, ou então quando se chega ao limite de algo e esse é o motivo pelo qual não fazemos o melhor. Devemos prender dizer "não" quando tiver de dizer "não", e "sim" quando tiver de dizer "sim". 
Temos condições de transformar nossos dias em dias melhores, e assumir uma postura mais otimista diante da vida, transcendendo a experiência humana que possui muitos obstáculos e sofrimento, em momentos divinos. 
Essa é a grande recompensa de dar o nosso melhor, entrar em contato com aquilo que há de mais belo em nosso interior, o melhor de nossas faces, o que há de mais verdadeiro.
*8888888888888888888888888888
* Aleph a primeira letra 
é uma compreensão universal através da observação de um ponto que reúne "tudo ao mesmo tempo, e agora".
Miguel Ángel Ruiz é descendente dos toltecas, nasceu numa família de curandeiros no México, ele é considerado um "nagal" da tradição tolteca. O Nagal nasce com uma forte disposição e não é paralisado pelo medo e é como se chama em sua tradição, quem ajuda iluminar e guiar o caminho de outras pessoas para que encontrem sua liberdade. abraço afetuoso, virgínia vicamf-"

Publicado no Recanto das Letras  Aleph Enviado por virgínia vicamf em 11/10/2013
Código do texto: T4520196
Classificação de conteúdo: seguro  



Tuesday, October 21, 2025

Olhar-pensar “ arejado” do Jô

 Olhar-pensar “ ar



ejado”


                                       


     ao meu filho amado 



 Recordar-me um episódio ocorrido em

 meados de 1981, quando Jô tinha ano e meio de idade

época de insights que expressava em suas primeiras sentenças.

Estava encantado com a descoberta do mundo e das coisas,

fazendo experiências que

 intitulei "Porô" na época e

assim ficou e passo a relatar;  

Em suas expedições pela casa Joaquim, escolhia objetos e os 

trazia à minha frente deixando-os cair ao solo, propositalmente. 

Espatifavam-se aos cacos alguns, com seus olhos admirados,

quando isto ocorria sentenciava- porô ! 

Corria à busca de outro e repetia a experiência. Eu assistia ao 

seu show/ aprendizado, durante dias, buscando entender o que 

estava ele a compreender e suas conclusões. 


Quando utilizava objetos inquebráveis, observava com mesma

 seriedade e brilho no olhar - não porô!  

Estava ele referindo-se a questão da resistência ? Estaria dizendo quebrou? Ou estourou? Referindo-se ao som; estouro?


Aprendendo estava eu, também a lidar com meu jovem pesquisador, 

transferindo para o alto todo objeto de estima ou valor que à sua 

experiência inviáveis economicamente. Também providenciando

 argila para que confeccionasse seus próprios artefatos poráveis. 


Foi nesta atmosfera que num final tarde qualquer, olhando as

Paredes da casa, o adorável menino proclamou – 

tudo tem furinhos né mamãe !

Com espanto respondi-lhe afirmativamente - há poros na matéria sim


Passei a pensar na necessidade de retomar o gosto pela Física

lembrando-me que à preferia juntamente com a Matemática e à 

Filosofia às outras disciplinas,para acompanhá-lo em diálogos 

pertinentes ...Entretanto a experiência Poro, foi encerrada, após 

este desafiante diálogo, com sucesso extraordinário, nada mais na

casa foi quebrado.


Iniciou-se na pesquisa de desmontagem, típica, dos brinquedos e, 

as observações silenciosas do céu! Meus sais! Astronomia era muito  

pra minha parca inteligência e falta de tempo? Sem pestanejar

um pequeno telescópio, um microscópio e uma lupa foram as novas

aquisições e as visitas ao Planetário e à Orquestra Sinfônica também 

agendados... e o tempo? Ah! Com a experiência compreendemos 

a relação Espaço-Tempo, que podemos dar um jeito, que tudo é 

relativo e, afinal em tudo há Furinhos!


Estava aberta a descobrir o tanto que não sabia sobre as palavras, o 

Universo, a Cosmologia e, com meus botões ( arejados) pensei – como

Einstein teria divertido-se em companhia das crianças com as quais

mantinha correspondência...  


Voilà!  

Wednesday, October 15, 2025

"Da Servidão à Liberdade em Espinosa


Ética da servidão à Liberdade. Em  Espinosa, a tristeza é um afeto passivo que ocorre quando uma afecção externa diminui a potência de agir de um corpo, um estado de ser e agir menor. A tristeza é a passagem de um grau maior de perfeição para um menor e, ao contrário dos afetos ativos (sempre alegres), a tristeza é uma reação a algo que nos oprime. O objetivo da Ética de Espinosa é, através da compreensão dessas afecções, diminuir os afetos tristes e aumentar os alegres, buscando a liberdade e a felicidade. O Filósofo de origem judaica (Bento de Espinosa) cuja  família refugiou-se em Amsterdã.  Aos amigos que desejarem aprofundar-se no pensamento do expoente da filosofia ocidental a obra encontra-se disponível no link https://www.kufunda.net/publicdocs/%C3%89tica-%20Baruch%20de%20Espinoza.pdf é é,  indico o site de um grande amigo filósofo Amauri Ferreira que dedicou a vida ao estudo de Espinosa. Site https://razaoinadequada.com/filosofos/espinosa/etica/ afetuosamente Virgínia

Wednesday, October 01, 2025

Dica Documentário e Filme reprise

 "O Silêncio das Marés" é um documentário poético sobre a maior zona de marés do mundo, o Mar de Wadden. ( Mar Frísio) Pode ser assistido no Amazon Prime https://app.primevideo.com/detail?gti=amzn1.dv.gti.80ca57b4-11d3-4a08-b9ca-1bd23407e0b0&ref_=atv_lp_share_mv&r=web Manifesta ciclos que envolvem a vida ondulante da flora e da fauna, e contrastes ao longo das quatro estações: vida e morte, tempestade e silêncio, as massas e o indivíduo. Em um cenário de céu, água, vento, névoa e luz, em constante mudança, testemunha a relação entre o homem e a natureza. O mar de Wadden ou mar Frísio (Wattenmeer em alemão, Waddenzee em neerlandês, Waadsee em frísio, Wattensee em baixo-alemão e Vadehavet em dinamarquês) é um mar situado entre as ilhas Frísias e o mar do Norte por um lado e as costas neerlandesa, alemã e dinamarquesa por outro. Formado por planícies marítimas, é muito pouco profundo, inclusivamente durante a maré baixa, quando consiste em grandes planícies arenosas interrompidas por canais de drenagem que evacuam a água (de facto, é possível atravessá-lo a pé, do continente às ilhas ou vice-versa). Há também grandes correntes. Tem cerca de 450 km de comprimento e entre 5 e 30 km de largura, com uma área de cerca de 10 000 km². A palavra wad é frísio e holandês para "lama plana" (baixo alemão e em alemão: Watt, em dinamarquês: Vade). A área é caracterizada por extensas planícies de lama de maré, trincheiras de maré mais profundas (riachos de maré) e as ilhas que estão contidas neste, uma região continuamente disputada por terra e mar.[2]


A paisagem foi formada em grande parte pelas marés de tempestade nos séculos 10 a 14, transbordando e levando antigas turfeiras atrás das dunas costeiras. As ilhas atuais são um remanescente das antigas dunas costeiras.


Em direção ao Mar do Norte, as ilhas são marcadas por dunas e praias de areia larga, e em direção ao Mar de Wadden uma costa baixa e de maré. O impacto das ondas e correntes que transportam sedimentos está mudando lentamente as massas de terra e as costas. Por exemplo, as ilhas de Vlieland e Ameland moveram-se para leste ao longo dos séculos, tendo perdido terras de um lado e adicionando-as do outro. #####################Filme Baseado em história real                  No fim do Arco-Íris (Leonie)  Assistir no YouTube https://youtu.be/wa8fvqAsmfg?si=k304KZjzbA_14LM1 Baseado em uma história real, o filme retrata a vida de Leonie Gilmour, uma mulher  visionária e determinada, editora e mãe do artista Isamu Noguchi. No início do século XX, ela desafiou as convenções sociais ao viver entre os Estados Unidos e o Japão, enfrentando preconceitos e criando seu filho com liberdade... No Fim do Arco-Íris (Leonie)

DIREÇÃO: Hisako Matsui

ELENCO: Emily Mortimer, Shidô Nakamura, Christina Hendricks, Mary Kay Place

PAÍS/ANO DE PRODUÇÃO: Japão / EUA / 2010

Sunday, July 27, 2025

Convite à Subjetividade com L.F. Pondé

 Um convite à subjetividade...No post Pondé aborda questões cruciais em torno das promessas " felicidade". Concordo com seu raciocínio.  Tenham uma  semana suficientemente boa amigos!   


https://youtu.be/5t5OYCME9ec?si=rhrImmbEJ656Bu3l 

Sunday, March 03, 2024

Arte como vontade de Potência

 “Temos a arte para não morrer ou enlouquecer perante a verdade" Nietzsche.


Segundo Nietzsche a vida é um constante criar e recriar sem uma teleologia pré-definida. É justamente por este aspecto que a arte expressa de forma mais transparente o que a vida é, pois, a arte é justamente o processo de criação e recriação sem uma finalidade para além da própria criação. A arte na perspectiva do artista está sempre inconclusa e por isso ele não cessa de criar, é como se o artista de alguma maneira captasse o que a vida é, e revelasse isso em sua arte e no processo de criação. A arte além de ser como tudo o mais, movida pela vontade de poder, na medida em que ela mesma é uma pulsão pelo constante criar, revela de forma muito peculiar o pathos que é a vida como vontade de poder que sempre supera a si mesma. Portanto, o verdadeiro artista ao perceber contra a corrente do mundo a forma como conteúdo e o conteúdo como forma, percebe o mundo invertido, e essa inversão no olhar o possibilita brincar com a vida, criando e transformando o atual em novo. Além disso, na medida em que os valores contrapostos pelo artista são uma mentira necessária para suportar a existência, em sua inversão da realidade encontra a verdadeira realidade em suas inúmeras realidades criadas. Os valores criticados exemplificados pela ação do artista é a concepção de verdade inaugurada pelo Socratismo e Platonismo, que de certa forma é fundamentada em uma espécie de divinização da racionalidade em detrimento do pathos. Nosso filósofo em explícita inversão do Platonismo afirma que a verdade racional-conceitual-metafísica tem menos valor que a irracionalidade do pathos artístico.//  Imagem eu com Arte da Exposição  Horizontes (In) Prováveis  2014 // Museu Direitos Humanos Mercosul Porto Alegre RS Brasil 


Monday, December 25, 2023

Agente da ação...

 A visão fenomenológica do movimento humano propõe que o sujeito seja o ator de seu movimento próprio e não apenas um objeto que recebe ordens para imitar padrões de movimento preestabelecidos. O movimento deve ser entendido como um diálogo entre homem e mundo, onde o ser humano compreende o mundo pela ação. Este movimento dialógico é expressivo e comunicativo que se manifesta como gesto criativo, com possibilidade de conhecer o transformar o mundo.


Saturday, December 23, 2023

Friday, August 18, 2023

Divagações filopoéticas



"A vida sem música é um                   erro, uma tarefa cansativa,                 um exílio” Nietzsche
 

Encontros deram-se através das paixões comuns tais como a música e filosofia, às afinidade pré existentes agregaram-se outras, isto aconteceu tanto em relacionamentos reais quanto nos virtuais, mas é sobre este últimos que atenho-me com mais acuidade nos parágrafos a seguir.
O diálogo virtual proporcionou e proporciona aprofundamento no mundo das idéias, leituras e universos pessoais encontram-se, tangenciam-se no invisível atemporal. O interior se faz compreensível através de diversas linguagens. Como explicar aproximações fulminantes? No virtual uma memória de futuro antecipa-se aos fatos e nele mesmo devires são permeados de intuição, esta que está contida na escrita onde o rítmo , musicalidade íntima deixa-se perceber.
Busquei expressar em palavras recentemente; Do invisível -A música parceira de todas horas preenche a atmosfera com as cores da alma... Entre ausências imagens, sons -mar-rítmos movem meus cataventos ...Antecipa-se ao pensamento todo sentir, ou seja a emoção é primordial à razão, esta estando à serviço da primeira. Tentamos explicar racionalmente, através da linguagem, que é pensamento o sentido, incomensuravelmente maior que o vocabulário existente e disponível. O corpo tem sua própria linguagem, na teatrealidade expressar-se, toda arte é tentativa de fazê-lo e, quando impossibilitado compõe patologias...Entre as "loucuras" inclui-se a busca de sentido a tudo que nos acontece, a vida talvez não tenha sentido , mas é certo que o que sentimos por vezes causa espanto devido as proporções que os sentimentos tomam .Talvez o que haja é o inexplicável e inexpressibilidade e, que assim continue até o último dos dias, contudo intentar compreender e expressar é nos peculiar. Por ventura aceitamos as inúmeras interpretações possíveis aos acontecimentos?Permitimos, admitimos singularidades filosóficas, abertura ao pensamento que buscar criar conceitos que descrevam percepções... ?
A Poesia, enquanto arte, permite-nos a liberdade expressiva que outras áreas do conhecimento humano impedem, além de não requer outra instrumentação que o corpo do Poeta escrivinhador...Gosto de crer que atraímo-nos consoante aproximações entre nossas leituras individuais do mundo, este que nos cerca e permeia.Por motivos que não sei explicar a não ser pela intimidade ocorrida muito cedo, desde que tenho lembrança de existir, com audição musical dos clássicos, música erudita, instrumental em geral, incluindo as composições medievais, incrivelmente belas, em detrimento ao popular , tornei-me ouvinte sensível e não por questão de erudição musical. O gosto viria da alta freqüência vibracional que as notas atingem transcendendo o palpável, o vivido, resgatando o elo dos sentidos universais ?
...A música é linguagem universal. Através dela o especial torna-se visível...
Com este devaneio um pouco longo e talvez desinteressante pretendo ilustrar a profundidade que algumas aproximações atingem. Ocorre que a palavra magia vem à mente em certas ocasiões.Das Articulações Invisíveis - nos silêncios mais íntimos das madrugadas/ no pulsar da chama acesa na audição solitária de Bach /no mais ermo recanto da terra /o mistério nos aproxima/ águias, pombas, gaivotas/seres do silêncio a quem nada escapa /ouvido atento aos chamados dos ventos/ah! nós que ouvimos um pouco /cremos nas flautas/nos tique taques nos assovios /a menor dissonância / atentos /em nós sempre um berço /um terço a mais pianiedade...O conceito pianiedade criei nos idos de 1979, para dar conta de encontros de intensidade semelhantes onde parece que são as infâncias ( in fante que não possui fala ) que dialogam utilizando a linguagem primordial - a música possibilitando entendimento capaz de superar dissonâncias que linguagens outras apresentam. De maneira que quando em pianiedade o encontro se faz, acontece , silêncios e verbo harmonizam-se abrindo portas ao infinito...Tido como de conhecimento amplo é o efeito benéfico que a música exerce sobre os seres vivos não somente ao homem, existem vários estudos sérios a respeito.
A música é som com harmonia e ritmo, mas fisicamente trata-se de energia cinética, energia em movimento ligando cada nota em seqüência e formando a linha melódica. Essa energia cinética determina a ressonância fazendo com que outras coisas ressoem em uníssono, entre esta o organismo. A ressonância que ocorrer sobre a matéria orgânica faz com que os ritmos vitais naturais das células, dos tecidos e dos órgãos sofram alterações, entrem em ritmos especiais e isto pode se refletir em algum tipo de desequilíbrio ou de equilíbrio que irão se refletir sob a forma de doenças ou como saúde.
Aos que encontram na filosofia de Nietzsche uma identificação e , ou gostariam de mais conhecer sua relação com a música , há um excelente Livro a consultar intitula-se , NIETZSCHE E A MÚSICA de Rosa Maria Dias.Boa pedida é rever Dias de Nietzsche em Turim , de Júlio Bressane- um filme sensorial, que não deixo poeira sentar, há cenas extraordinariamente belas - diria ...um ode à vida !
Finalizo com as sábias palavras do filósofo tão querido, que a mais de quarenta e tantos anos, tem sido amigo de cabaceira e, companheiro em ocasos e auroras mais pungentes..." temos a arte para que a verdade não nos destrua"                           virgínia publicado em 2009 no Poema à Flor da Pele

Tempos de Estar IV


 TEMPOS DE ESTAR IV... *

 Nuvens claras passam sublimes na esfera calma de bolhas de sabão... Em nossas mãos, um par de doces poemas em fá, lá, sem dó... Em pianar as letras se transformam e de nossos membros desprendem-se hinos à magia do existir; líquido elixir... Ah! Se pudéssemos pela vida à fora crer, como agora, na mais calma hora, que o amor é em nós e compreender a sabedoria do Monge Tokuda ; “ ... o espírito é vacuidade pronto a receber todas as coisas” 

Na vacauidade somos com todos e, que  ainda despertem... ´Seremos...Há possibilidade de despidos de culpas, no plano da inocência, crer que na inconsistente impermanência, abre-se a flor ( sorriso da raiz) e nesta há as sementes do que seremos por brevidade eterna; errantes sorrisos, sopros de vida, devires e nada mais.

Reconfortante sentir que a vacuidade agasalha e, que só possuí o que dei e serei somente o quanto ousar desprender-me ...  Virgínia *vica bailarina 09/08/2000  publicado https://www.webartigos.com/artigos/tempos-de-estar-iv/96224?expand_article=1

Monday, March 01, 2021

Bem estar...

 Solitude lunar preenche o coração das aves ao entardecer...sublimes são as água doces a percorrer confiantes para o mar...  Somos demasiadamente inquietos, inseguros, ansiosos  porque nos perdemos frequentemente do  rumo que nos é natural, esquecemos de navegar através das  estrelas ...de seguirmos em direção ao nosso lar...


https://youtu.be/h804QmhDusY no link belíssima música 


Caminhos...




Wednesday, April 20, 2016

para que escrever ? creio apropriado reler entrevista - palavra nua de Foucault releituras referenciais


"(...)Esse coração venenoso das coisas e dos homens -é isso, no fundo, o que eu sempre procurei trazer à tona.(...)"Então eles não estavam mortos!"
> "LE MONDE" - São Paulo, domingo, 21 de novembro de 2004- 
 
Leia trecho de entrevista de 1966 em que o filósofo explica a relação entre escrita e morte 

Michel Foucault já concedeu muitas entrevistas, mas poucas vezes falou sobre aquilo que o liga de maneira íntima à escrita, à qual ele chegou tarde e por necessidade. Nesta entrevista de 1966, ainda inédita e dada a Claude Bonnefoy após o lançamento de "As Palavras e as Coisas" [Martins Fontes] -e conservada no Centro Michel Foucault-, o filósofo francês fala de suas dúvidas, convicções e de sua relação íntima com a escrita.
 
Assim, minha relação com a escrita era um pouco complicada, um pouco sobrecarregada. Mas existe outra recordação, bem mais recente. É o fato de que, no fundo, eu nunca levei muito a sério a escrita, o ato de escrever. O desejo de escrever só surgiu forte em mim quando eu tinha cerca de 30 anos. Para chegar a descobrir o prazer possível da escrita, foi preciso estar no exterior.
Eu estava vivendo na Suécia e me via obrigado a falar ou o sueco, que conhecia muito mal, ou o inglês, que praticava com muita dificuldade. Meu conhecimento fraco dessas línguas me impediu de dizer o que eu realmente queria durante semanas, meses, até mesmo anos.
Eu via as palavras que queria dizer sendo travestidas, simplificadas, tornando-se como pequenas marionetes irrisórias à minha frente, assim que as pronunciava.
Nessa impossibilidade de usar minha língua própria, percebi, em primeiro lugar, que esta possuía uma espessura, uma consistência, que ela não era simplesmente como o ar que respiramos, uma transparência absolutamente insensível, mas que tinha suas leis próprias, seus corredores, suas linhas, seus declives, suas costas, suas irregularidades -em suma, que tinha uma fisionomia e que formava uma paisagem na qual podíamos caminhar e descobrir em volta das palavras, das frases, de repente, pontos de vista que não apareciam até então.
Nessa Suécia em que tinha que falar uma língua que me era estranha, compreendi que podia habitar minha língua, com sua fisionomia repentina particular, como o lugar mais secreto, mas mais seguro, de minha residência nesse lugar sem lugar que é o país estrangeiro no qual nos encontramos.
Hoje, o problema que me preocupa -e que, na realidade, não pára de me preocupar há dez anos- é o seguinte: em uma cultura como a nossa, em uma sociedade como a nossa, o que significa a existência das palavras, da escrita, do discurso? Me pareceu que nunca atribuímos importância tão grande ao fato de que, ao final de tudo, o discurso existe.
Os discursos não são apenas uma espécie de película transparente através da qual e graças à qual enxergamos as coisas, eles não são simplesmente o espelho do que é e do que pensamos. O discurso possui uma consistência própria, sua espessura, sua densidade, seu funcionamento. As leis do discurso existem do mesmo modo que as leis econômicas existem.

As pessoas sentem minha escrita como uma agressão; elas sentem que existe nela alguma coisa que as condena à morte; eu não as condeno à morte, simplesmente suponho que já estejam mortas


É claro que ela marca uma conversão total com relação àquilo que, para mim, era a desvalorização absoluta da palavra quando eu era criança. Me parece -creio que consiste nisso a ilusão de todos aqueles que acreditam descobrir alguma coisa- que meus contemporâneos são vítimas das mesmas miragens de minha infância. Também eles crêem facilmente demais, como eu fazia no passado, como se acreditava em minha família, que o discurso, a linguagem, não é grande coisa, no fundo.
Os lingüistas, eu sei, descobriram que a linguagem é muito importante porque ela obedece a leis, mas eles insistiram sobretudo na estrutura da linguagem, ou seja, na estrutura do discurso possível.
Mas eu me pergunto é sobre o modo de surgimento e funcionamento do discurso real, sobre as coisas que foram efetivamente ditas. Trata-se de uma análise das coisas ditas, na medida em que são coisas. É isso que é o oposto do que eu pensava quando era criança.
Sinto uma impressão de veludo quando escrevo. Para mim, a idéia de uma escrita aveludada é como um tema familiar, no limite do afetivo e do perceptivo, que não pára de assombrar meu projeto de escrever, não pára de guiar minha escrita quando estou escrevendo, que me permite a cada momento escolher as expressões que quero utilizar. A doçura é uma espécie de impressão normativa para minha escrita. Assim, fico muito espantado ao constatar que as pessoas tendem a enxergar em mim alguém cuja escrita é seca e mordaz.
Refletindo sobre isso, acho que são elas que têm razão. Imagino que deve existir, em minha caneta, uma velha herança do bisturi. Talvez, afinal, eu trace sobre a brancura do papel os mesmos sinais agressivos que meu pai traçava sobre os corpos dos outros que ele operava. Transformei o bisturi em caneta. Passei da eficácia da cura à ineficácia da livre proposta, substituí a cicatriz sobre o corpo pela grafitagem sobre o papel, substituí o inapagável da cicatriz pelo sinal perfeitamente apagável e rasurável da escrita. Talvez seja mesmo o caso de ir mais longe ainda. A folha de papel, para mim, talvez seja como os corpos dos outros.
O que é certo, o que eu senti imediatamente quando, perto dos 30 anos de idade, comecei a sentir o prazer de escrever, é que esse prazer de escrever sempre guardou um pouco de relação com a morte dos outros, com a morte de modo geral. Essa relação entre escrita e morte é algo do qual mal ouso falar, pois sei quanto alguém como [Maurice] Blanchot já falou sobre coisas muito mais essenciais, gerais, profundas e decisivas do que o que eu possa dizer agora.
Eu diria que a escrita, para mim, está ligada à morte, talvez essencialmente à morte dos outros, mas isso não significa que escrever seria como assassinar os outros e realizar contra eles, contra sua existência, um gesto definitivamente mortífero que os expulsaria da presença, que abriria um espaço soberano e livre à minha frente. De maneira nenhuma. Para mim, escrever significa lidar com a morte dos outros, sim, mas, essencialmente, significa lidar com os outros na medida em que já estão mortos. De certa maneira, falo sobre o cadáver dos outros. Devo confessar que, até certo ponto, eu postulo sua morte. Falando deles, me vejo na situação do anatomista que faz uma autópsia.
Com minha escrita, eu percorro o corpo do outro, faço incisões nele, levanto os tegumentos e as peles, procuro trazer os órgãos à tona e, com isso, fazer aparecer finalmente o local da lesão, o local onde reside o mal, esse algo que caracterizou sua vida, seu pensamento e que, em sua negatividade, acabou por organizar tudo o que eles foram. Esse coração venenoso das coisas e dos homens -é isso, no fundo, o que eu sempre procurei trazer à tona.
Eu compreendo, também, porque as pessoas sentem minha escrita como uma agressão. Elas sentem que existe nela alguma coisa que as condena à morte. Na realidade, sou bem mais ingênuo do que isso. Eu não as condeno à morte. Simplesmente suponho que já estejam mortas. É por isso que me surpreendo quando as ouço gritar. Fico tão espantado quanto o anatomista que sentisse redespertar de repente, sob a ação de seu bisturi, o homem sobre o qual pretendia fazer uma demonstração. Bruscamente, os olhos se abrem, a boca se mete a gritar, o corpo a se retorcer, e o anatomista se espanta: "Então ele não estava morto!".
Acho que é isso o que acontece comigo em relação àqueles que me criticam ou gritam contra mim, depois de me haver lido. Sempre é muito difícil para mim responder a eles, exceto por uma desculpa, desculpa que eles talvez interpretem como ironia, mas que, na realidade, é a expressão de meu espanto: "Então eles não estavam mortos!".

Tradução de Clara Allain.
abç virgínia ( vic) coordenadora por uma década do Canal de Filosofia Portal VMD( extinto )

DO "LE MONDE" 
O sr. poderia explicar como abordou a escrita? Uma de minhas lembranças mais constantes -certamente não a mais antiga, mas a mais obstinada- é a das dificuldades que tive para escrever bem. Escrever bem no sentido em que se entende o termo na escola primária, ou seja, criar páginas de escrita bem legíveis. Acredito -na verdade, tenho certeza- que, em minha classe e minha escola, eu era o mais ilegível. Isso continuou por muito tempo, até os primeiros anos do ensino secundário.
Quando o sr. começou a escrever, houve uma reviravolta, então, com relação a essa concepção primeira e desvalorizadora da escrita? A reviravolta veio, evidentemente, de mais longe. Mas cairíamos numa autobiografia ao mesmo tempo anedótica demais e banal demais para que fosse interessante falarmos dela. Digamos que foi por meio de um trabalho longo que eu finalmente conferi a essa palavra tão profundamente desvalorizada um certo valor e um certo modo de existência.

Wednesday, February 03, 2016

Poucos anos ...* virgínia vicamf vic berger

 desconstrói, descomplica isenta da conta do sujeito do inconsciente a culpa e também as dês culpas. pega o giz e faz um traço que se converte em linhas curvas ...viste é quase mar e o sol é uma laranja doce! 

quando o sonho do avesso já não dói na barriga feito vidro a vida é plena.. . vês o caminho ascendente que ao mediterrâneo a mente nos leva em fração de segundos... 






viajar...ah! a imaginação não subtrai, já a realidade muitas vezes o sonho trai ... vaso de cerâmica, corda, juta ...nós? junta tudo mexe no pires a borra do café com mel, fica bonito! pedrinha colorida de rio eu vi, coloquei no bolso e adormeci... acordei e tinha cinqüenta e muitos anos. 
embriagada de mar trouxe dos peixes d´oceano o cristal que reflete o que ainda não vivi... em tão poucos anos... Poucos anos , <   vic berger,virgínia 2013- vicamf -  além mar mulher  peixe voador > 


 fotos  1 & 2 -  pedacinho de paraíso cabe-nos  preservar, visto que a Figueira está sob nossa custódia, Local-  às margens da Lagoa da Custódia, Municipio Tramandaí RS BR

imagem 3 - arte - Martin Hsu

Tuesday, February 25, 2014

O Poeta e as Artes- Reiner Maria Rilke breves considerações

O Poeta e as Artes- Reiner Maria Rilke breves considerações * virgínia vicamf
 
 
 















Inicialmente sobre a Obra  O diário de Florença-
Em 1897 o Poeta foi apresentado a intelectual Lou Andreas-Salomé  (amiga, discípula do Filósofo F. Nietzsche que mais tarde tornou-se Psicanalista) que provocou uma mudança radical na vida deste .Lou incentivou-o na preparação da viagem a Florença, onde ele pretendia estudar a língua italiana e assistir a cursos sobre história da arte. Rilke começa a redigir a obra (cartas) assim que desembarca na cidade italiana em 15 de abril de 1898 e a termina em 06 de julho do mesmo ano. O diário não é um rigoroso relato de viagem nem uma sucessão cronológica de fatos e sim um envolvente relato no qual compartilha suas emoções, descobertas, experiências e reflexões sobre as artes, particularmente sobre a arte do Renascimento, com Lou Andreas- Salomé além de dirigir-lhe palavras afetuosas . A obra é dedicada a ela.

Trecho do diário: "O sentimentalismo pressupõe a fraqueza, o amor pelo sofrimento. Mas creio que ninguém deixa transparecer tão nitidamente a luta contra o sofrimento como Botticelli. E esse sofrimento não é uma tristeza passiva, imotivada (...), e sim o sentimento ocasionado por esta primavera estéril que se exaure em seus próprios tesouros."
 
A solidão foi um combustível indispensável ao Poeta Rainer Maria Rilke .

Depois de Florença, Rilke, planejou uma viagem à Rússia a convite de Lou Andreas Salomé , que além de amiga foi sua amante e o estimulou a trocar de nome, ou seja substituir o enorme nome de batismo ; René Karl Wilhelm Johann Josef Maria Rilke(trocou o seu primeiro nome por Reiner)o que resultou no nome pelo qual o conhecemos; Rainer Maria Rilke.











 
Na primavera de 1901 o Poeta casou-se com a Artista Clara Westhoff (aluna do Artista August Rodin) e tiveram uma filha Ruth, no início de 1902, mas dentro de seis meses, eles concordaram em viver separados, a fim de melhor exercer a sua arte. Mantiveram um relacionamento cordial com breves reuniões, entretanto os “Rilke” como família não viveram juntos. Ela morreu em Fischerhude em 1954.Sua casa e estúdio é hoje Café Im Rilke-Haus - Entre as obras sobreviventes de Clara Westhoff (Rilke) está retrato do busto de Ranier Maria Rilke (Gesso sobre base de gesso 1901). Para ler sua rica Biografia
 
Rilke foi secretário do grande Escultor que exerceu grande influencia sobre sua poética entre 1905 a 1906. Em sua Obra reúne seus dois ensaios sobre o escultor francês . Traduzido por Daniela Caldas-Rio de Janeiro- Relume Dumara, 1995-Título original, Auguste Rodin. 
 
“Com essa descoberta (da superfície) começa o autêntico trabalho de Rodin. (...) Não havia poses, nem grupos, nem composição. Havia somente incontáveis superfícies vivas, havia somente vida (...). Rodin percebia a vida, que estava em toda parte, em qualquer lugar que olhasse. Ele a percebia em todos os lugares, observava-a, dirigia-se a ela. Ele a esperava onde ela hesitava, na sua superação; ele a pegava onde ela corria, e encontrava-a em todos os lugares em seu tamanho original, com a mesma força que a impelia. Não havia então nenhuma parte do corpo diminuta ou sem significado: ele era vivo” pgs. 31-32.

Até 1912, Rilke visitou diversos países, participou de inúmeras conferências. Fixou residência na Suíça alemã, onde desenvolveu um “ estilo de vida do artista puro”; livre de preocupações familiares, concentrado exclusivamente ao trabalho. Morreu em 1926, de leucemia. Deixou-nos ” uma poesia seminal, da qual as palavras brotam como se fossem os próprios seres da natureza.”
 
Outra obra além das supracitadas e inúmeras conhecidas do Poeta destaco ainda < Cartas sobre Cézanne- (correspondência trocada com sua esposa a artista plástica Clara Westhoff Rlke- tradução de Pedro Süssekind. Ed.Rio de Janeiro- 7 Letras, 2001. Título original: Briefe über Cézanne.

Notas - 
Livro O diário de Florença- Rainer Maria Rilke. Traduzido por Marion Fleischer - São Paulo : Nova Alexandria, 2002. – 143 pág.- Título original: Das Florenzer Tagebuch
Sobre Ilustração 1- Em 1872, um imponente torso masculino foi descoberto por O. Rayet e A. Thomas no teatro em Mileto, uma cidade helenística próspero na Ásia Menor. No ano seguinte Edmond e Gustave de Rothschild, que subsidiaram a expedição, apresentou-o ao Louvre. O torso, esculpida em torno de 480-470, foi restaurada no século II aC, antes de serem reutilizados no teatro romano, provavelmente como parte da parede do palco. Vários detalhes-incluindo marcas de ferramentas na superfície do mármore, a modelagem robusta, ea posição do braço direito de chumbo nos atribuir esse trabalho para um dos dois escultores do final do século VI aC. Alguns vêem semelhanças com um bronze Apollo esculpidas por Kanachos de Sikyon para o templo em Didyma. Outros vêem o estilo de Pitágoras, que criou estátuas de atletas que foram admiradas por seu realismo - Fonte
 
O Poema de Reiner Maria Rilke
foi inspirado pela obra .
 
“Não fosse assim, seria essa estátua uma mera     
Pedra, um desfigurado mármore, e nem já
Resplandecera mais como pele de fera.
Seus limites não transporia desmedida 
Como estrela: pois ali ponto não há 
Que não te mire. Força é mudares de vida”.
 
a tradução é do ilustre Manuel Bandeira